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domingo, 23 de abril de 2023

Guerra na Ucrânia e Super Tucano NATO produzido em Portugal: conexões?

 


Destarte boato irresponsável sobre “Dezenas de Super Tucanos dos Estados Unidos já estão na Ucrânia”, uma adulteração de um vídeo promocional do Programa LAS (sic) postado por canais no Youtube sem qualquer credibilidade (e racionalidade), o anúncio do Super Tucano NATO durante a #LAAD 2023 acontece após alguns recentes e pouco comentados eventos localizados na terrinha mãe, Portugal.

Vamos voltar no tempo ao SMi Close Air Support (CAS) realizado em Londres no ano de 2018

O então vice-presidente de vendas da Embraer para a Europa e Norte da África, Simon Johns, afirmava publicamente em julho de 2018, durante a conferência SMi Close Air Support (CAS) em Londres, que o Super Tucano poderia vir a equipar forças aéreas europeias como uma alternativa de baixo custo para a operação de jatos e helicópteros mais custosos.

Segundo Johns observava naquela ocasião, as mudanças incluiriam a integração de mísseis anticarro guiados do tipo Hellfire (AGM-114), da Lockheed Martin, bem como foguetes guiados a laser.

A Embraer também vislumbrava naquela ocasião um ótimo potencial de vendas na Ucrânia, que passava por dificuldades na obtenção de financiamento para adquirir uma nova aeronave de combate.

Os militares ucranianos consideraram o EMB-314 uma opção acessível que acrescentaria considerável poder de combate. Além disso, os pilotos militares que voaram a aeronave elogiaram bastante a capacidade do Super Tucano de operar próximo à linha de frente de forma ágil e flexível o suficiente para responder as ameaças em tempo hábil.

Para atingir tal desempenho, o avião ucraniano já seria entregue equipado com receptor de alerta radar (RWR) e sistema de alerta de aproximação de mísseis (MAWS), equipamentos indispensáveis para operar de forma segura em um ambiente de maior ameaça como o TO europeu.

Pilotos Ucranianos que voaram o Super Tucano? Exatamente, e mais de uma vez, no Brasil e… em Portugal!

Em agosto de 2019, uma delegação de pilotos militares da Força Aérea da Ucrânia, liderados pelo seu comandante, Colonel General Sergii Drozdov, visitaram a Base Aérea de Campo Grande e lá voaram com pilotos brasileiros a versão biplace (dois lugares) do Super Tucano.

Coincidentemente, a maioria desses pilotos eram qualificados no jato de ataque Sukhoi SU-25 Frogfoot, incluindo aí o próprio Drozdov.

A história fica mais complexa, e o interesse ucraniano, evidente, quando estes repetem a dose e voam novamente o Super Tucano em avaliações operacionais, dois meses a frente, em outubro de 2019, só que dessa vez em Portugal, segundo o portal de notícias Top War.

A foto do que seria o piloto ucraniano embarcando no Demonstrador da Embraer, em Monte Real, no ano de 2019 (foto via Top War)

Aí temos a inconsistência de datas, já que fotos mostrando os testes do Super Tucano na Base Aérea Nº 5 Monte Real, em Portugal, a mesma citada na publicação Top War, são de novembro de 2020, ou seja, praticamente um ano depois!

Das duas uma, ou TOP WAR erra na questão das datas corretas por 11 meses, mas acerta no conteúdo, ou a Embraer e a FAP já estariam conduzindo voos de familiarização para clientes europeus interessados em uma versão do Super Tucano NATO usando o demonstrador de fabricante Embraer EMB-314E Super Tucano, matrícula PT-ZTU (número de construção 31400232) antes mesmo do advento da Pandemia do Covid-19.

Existe a foto do piloto ucraniano embarcando na aeronave citada, em Monte Real (via Top War), assim como a foto da mesma aeronave operando em Monte Real, 11 meses depois (via Scramble). E os relatos da presença de militares ucranianos nessas ocasiões são consistentes.

O demonstrador de fabricante Embraer EMB-314E Super Tucano, matrícula PT-ZTU (número de construção 31400232) em Monte Real – 2020 (Foto: Filipe Cruz via Rico Angerman)

Não se trata de especulação, é factual documentado. A questão é entender a sequência correta de eventos que culminaram na apresentação do A-29 Super Tucano NATO durante a LAAD 2023.

Uma coisa é certa nessa história, a Ucrânia é cliente interessada na compra dessa aeronave.

Ao decidir-se pela produção do modelo em Portugal, a Embraer libera essas aeronaves Super Tucano repassadas a Ucrânia de qualquer restrição existente ou que possa ser imposta pelo Governo Brasileiro, que possui o controle sobre as aeronaves em produção no território nacional ou integrando a frota da Força Aérea Brasileira. Adicionalmente, essa linha de ação isenta o Estado Brasileiro de qualquer custo diplomático.

Ao mesmo tempo, Portugal resolve uma demanda antiga, a necessidade de operar aeronaves CAS para garantir superioridade aérea e tempo de reposta ágil em missões ar-solo nas intervenções de além-mar a soldo das Nações Unidas, nas chamadas Missões de Paz, e ainda reforçar sua capacidade de treinamento e conversão para a primeira linha, algo bem necessário com a aposentadoria dos antiquados Alpha Jet em janeiro de 2018.

E com aeronaves novas.

Outro dado importante, a cadeia logística montada em torno do Super Tucano NATO.

Em setembro de 2022, a Embraer e o Grupo Industrial português GMV anunciavam um Memorando de Entendimento para cooperação nas áreas de desenvolvimento e integração de sistemas para produtos e serviços de defesa, principalmente no âmbito do programa da aeronave A-29 Super Tucano.

O Memorando apontava ainda potenciais parcerias em processos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação, com o objetivo de ampliar o relacionamento comercial de longo prazo entre as empresas durante as fases de concepção, design, desenvolvimento, produção e suporte… do Super Tucano NATO.

Finalmente, muitos poderiam alegar que o Super Tucano NATO não poderia ser vendido a Ucrânia.

É um argumento simplista, na medida em que praticamente todo o armamento pesado de relevância empregado no campo de batalha pelos ucranianos contra o invasor russo é de origem e fabricação… NATO.

Assim, temos no presente momento, e como gran finale dessa história, a visita do presidente Luís Inácio a Portugal, durante quatro dias, iniciada na última sexta-feira, 21 de abril.

A programação de atividades entre os dignatarios das duas nações inclui um voo no KC-390 da FAP entre Porto e Lisboa, de onde o presidente brasileiro seguirá para a empresa OGMA, subsidiária da Embraer no país, que fica em Alverca.

Segundo a mídia de comunicação lusitana RTP, o presidente brasileiro anunciará “investimentos importantes em Portugal” envolvendo a indústria aeronáutica na segunda-feira, 24.

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