O país sul-americano foi o único operador estrangeiro do Panther.
O Grumman F9F Panther representou para a Marinha Argentina o mesmo que o Gloster Meteor para a Força Aérea: o início da Era do jato.
Breve histórico
Desenvolvido pela tradicional empresa aeroespacial Grumman Aircraft Engineering Corporation, como um caça-bombardeiro embarcado para a Marinha dos EUA, o F9F Panther decolou como protótipo em 24 de novembro de 1947 e entrou em serviço em 1948. Ele foi o primeiro caça a jato da Grumman e o segundo da Marinha dos EUA em nível operacional.
Logo após serem incorporados ao Serviço naval, foram convocados a participar da Guerra da Coréia, na qual os F9F Panthers realizaram cerca de 78.200 surtidas de combate.
No total, 1.382 unidades foram construídas, sendo a Argentina o único cliente de exportação.
Com a ARMADA Argentina
O Grumman F9F Panther representou para a Marinha da Argentina o mesmo que o Gloster Meteor para a Força Aérea: o início da Era do jato
A Argentina, um país com longa tradição aeronáutica, deu os primeiros passos na Era nascente dos jatos com a incorporação do Gloster Meteor F.MK IV na Força Aérea Argentina (FAA) em 1947. Por seu lado, a Armada da República Argentina (ARA) estava atenta à evolução tecnológica, que se materializou em vários cursos conduzidos por seus pilotos navais nas referidas aeronaves da FAA e no exterior.
Em meados da década de 1950, a Marinha Argentina iniciou os esforços para adquirir aeronaves a jato, que após estudar várias propostas, decidiram pelo Grumman F9F-2B Panther. A escolha recaiu principalmente devido ao seu baixo custo de aquisição e projetada para operações embarcadas, uma razão não menos importante para a ARMADA que pretendia incorporar um porta-aviões no curto prazo.
No final de 1957, a Argentina adquiriu 28 caças F9F-2B (quatro foram usados como fonte de peças). Os dez primeiros aviões chegaram à Base Naval de Puerto Belgrano a bordo do transporte ARA “Baia de Bom sucesso” em agosto de 1958. Eles foram imediatamente transferidos para a Base Aérea Comandante Espora para iniciar as inspeções relevantes e receberem marcações nacionais, uma vez que chegaram com o esquema de pintura da Marinha dos EUA.
No dia 27 de novembro de 1958, a Armada enviou seu primeiro avião a jato para o Primeiro Esquadrão de Ataque de Aeronaves da Frota de Combate e recebeu o registro (DIMA) 0416 e a característica (Indicativo de Chamada) 2-A-20. Sete dias depois, ele fez seu primeiro voo no país.
O restante do lote foi entregue em janeiro de 1959, recebendo placas de registro e características pertencentes ao Esquadrão de Aeronaves Nº 2. Naquela época, havia no esquadrão sete aviões em condições de voo e, com a entrada em serviço dessas aeronaves, todos os North American NA-16 utilizados pelo esquadrão foram desativados. No início de agosto de 1960, a unidade tornou-se dependente do Esquadrão de Aeronaves nº 3, sendo transferido para a Base Aérea de Punta Indio.
O último Panther, designado 3-A-124, entrou em serviço em 31 de janeiro de 1961. Esse Panther em março de 1964 tornou-se o 3-A-101, porque o anterior – 3-A-101 – foi destruído em uma colisão contra uma montanha no dia 3 de abril de 1963. Uma mudança de numeração na Aviação Naval era uma prática muito comum, com o intuito de não perder uma sequência numérica das aeronaves.
Devido à falta de aviões biplace, o período de instrução foi realizado de maneira precária (com o instrutor localizado ao lado da cabine), complementado com vários cursos realizados nos Lockheed T-33A do Grupo Aéreo Nº 2 da FAU (Fuerza Aérea Uruguaya), na Base Aérea de Carrasco. Essa situação levou à aquisição subsequente de dois Grumman F9F-8T (TF-9J desde 1962) Cougar de dois lugares para treinamento. Essas aeronaves colocaram a Aviação da Armada um passo à frente da Força Aérea Argentina, pois elas tinham capacidade de reabastecimento em voo e possibilidade de serem equipadas com mísseis ar-ar. Os Cougar chegaram a bordo do porta-aviões ARA “Independence“, juntamente com os seis primeiros Grumman S-2A Tracker no dia 24 de maio de 1962. Esses aviões receberam os números de série 3-A-151 e 3-A-152. O aumento do número de pilotos qualificados permitiu a realização de vários exercícios de ataque em várias partes do país, incluindo Ushuaia, a localidade mais austral do mundo.
Batismo de Fogo: ARA vs FAA
Graves eventos institucionais ocorreram em agosto e setembro de 1962 na Argentina. A luta pelo poder limitou-se às Forças Armadas, iniciando os episódios conhecidos como confronto entre “Azules” e “Colorados“. No dia 2 de abril de 1963, após vários meses de uma frágil e tensa paz, o conflito ressurgiu.
Naquela época, a Armada se juntou à revolta ao lado dos Colorados. Em meio à crise, os sobrevoos foram proibidos em todas as bases de aéreas navais por qualquer aeronave de fora da instituição. Na Base Aérea de Punta Indio, todas as aeronaves que estavam fora de serviço ou em reparo, foram colocadas nas áreas de estacionamento, caso sobrevoassem aviões de reconhecimento do lado oposto. Naquela ocasião, Punta Indio estava a poucos minutos de ser bombardeada pela Força Aérea Argentina “Azules”.
Naquela manhã, com toda a Força Aérea em alerta, decidiu-se uma série de voos de patrulha para observar o desenvolvimento dos eventos, em particular o deslocamento das forças Azuis e conferir a suposta neutralidade prometida pelas unidades da FAA entre elas, a VII Brigada Aérea da Base Aérea de Morón e das unidades da Base Aérea de Tandil. Um avião Beechcraft RC-45J foi enviado para sobrevoar o Regimento de Cavalaria nº 8 (C-8), localizado em Magdalena (a poucos quilômetros da Base Aérea de Punta Indio) para lançar panfletos pedindo que parassem de se movimentar. Ao chegar ao quartel, ele foi recebido com tiros que causaram danos em uma das asas.
Em retaliação, o Regimento C-8 foi atacado por aeronaves F-4U5 Corsair, 5N e 5NL, North American SNJ-5C e Grumman Panther, que lançaram bombas e foguetes de diferentes tamanhos e tipos, causando sérios danos e várias baixas. Os tanques M-4 Sherman Firefly pertencentes à mencionada unidade do Exército, conseguiram se esconder nas montanhas próximas, sendo apenas dois atingidos, além de um caminhão com vários soldados, enquanto os aviões destruíam todas as instalações do quartel evacuado.
Durante os primeiros dias de combate, a Armada perdeu um Corsair e dois Panther (3-A-109 e 3-A-107). Segundo fontes oficiais da Armada, o motivo da perda desses Panthers foi devido a uma colisão em voo (acidente operacional), enquanto fontes do Exército indicam que foram abatidas pelo fogo antiaéreo dos mais de 50 tanques, cada um deles armados com uma metralhadora Brownning de 12,7mm, adicionada as 18 armas Bofors 40/60 do Grupo de Artilharia de Defesa Aérea 1 (GADA 1), implantadas na área. Note-se que os ataques dos aviões navais foram realizados a uma altura muito baixa, uma vez que as armas utilizadas eram basicamente foguetes HVAR padrão de 127 mm, lançados em mergulho, em um ângulo de 30-35 graus.
O levante fracassara rapidamente, embora a FAA não soubesse. No início da manhã do dia 3 de abril, aeronaves leais ao lado “Azules” – compostas por dois bombardeiros Avro Lincoln, dois F-86F Sabre e dois Gloster Meteor – realizaram um ataque a Punta Indio, destruindo algumas instalações, além de quatro aviões Panther, um Douglas DC-4 e danificando alguns Corsair, dois Panther e um Tracker.
Mais tarde, a Base Aérea Punta Indio teve que se render às tropas do Regimento de Tanques n.º 8 e ao Regimento de Cavalaria do Exército Blindado n.º 10 que a ocuparam, passando a usar as instalações da base para alojar seus veículos. Como resultado das ações, o Primeiro Esquadrão Aeronaval de Ataque perdeu seis de seus aviões e vários outros sofreram danos consideráveis, um dos quais não voaria novamente, o que resultou na redução da disponibilidade para 17 aviões.
Serviço em porta-aviões
Em julho de 1963, o Grumman Panther número de série 3-A-119 se tornou o primeiro avião da Marinha Argentina a pousar em um porta-aviões de bandeira argentina, quando enganchou no fio número 1 no ARA “Independência“. O capitão-de-Fragata Justiniano Martínez Achaval foi o responsável por este momento histórico. Esse mesmo piloto também foi quem fez o primeiro pouso de uma aeronave argentina a bordo do mesmo porta-aviões, nos comandos de um North American SNJ-5C em junho de 1959. O embarque dos Panther coroou o período de práticas de aproximação em porta-aviões, que embora a catapulta hidráulica não pudesse lançá-los devido à falta de energia, existia a viabilidade de usar esse navio para recuperar as aeronaves após uma missão de combate em caso de necessidade tática ou de emergência.
Em 1967, havia cerca de oito Panther em serviço dos 15 restantes. Algo a destacar e que raramente ocorre em aviões de combate é o fato de que, apesar de alguns acidentes (principalmente pequenos) e de terem entrado em combate, nenhum piloto morreu nos comandos dessas aeronaves durante seu serviço na Armada. Devido ao estado e antiguidade das células, começaram a ser analisadas alternativas para sua substituição e, como medida transitória, o Primeiro Esquadrão de Ataque da Armada recebeu 17 North American T-28 Fennec diretamente dos Estados Unidos, e mais um total de 53 da França, que posteriormente 14 seriam modificados para o padrão T-28P, com a capacidade de operação embarcada.
Por fim, foi decidido substituir os Panther e Cougar por oito Aermacchi MB-326GB, que chegaram em 1968. O último voo de um Panther na Argentina ocorreu no dia 3 de março de 1970.
Dos 24 Grumman F9F-2 Panther colocados em serviço com a Marinha Argentina, sete foram perdidos nos eventos de abril de 1963 e dois em acidentes. Dez foram vendidos como sucata, um vendido para os Estados Unidos e quatro foram para exposições na Argentina. Dois deles estão colocados como monumentos; um na Base de Punta Indio e outro na Base Naval de Puerto Belgrano – um está exposto no Museu Naval de Tigre e o restante no Museu de Aviação Naval.
Variantes
XF9F-2 – Designação aplicada aos dois primeiros protótipos, um equipado com o turbojato Rolls-Royce Nene e outro com o Pratt& Whitney J42.
XF9F-3 – Nome aplicado ao terceiro protótipo.
F9F-2 – Modelo de série inicial com motor Pratt& Whitney J42-P-8 (desenvolvido com base no Rolls-Royce Nene) (567 unidades)
F9F-2B – Modelo de ataque ao solo com suportes subalares para bombas e foguetes. A maioria dos F9F-2 foram modificados para o 2B.
F9F-2P – Variante de reconhecimento fotográfico.
F9F-3 – Modelo com turbojato Allison J33 (54 unidades) posteriormente remotorizado com o J42.
F9F-4 – Modelo de série com fuselagem alongada, maior carga de combustível e turbojato Allison J33-A-16
F9F-5 – Variante do anterior com motor Pratt& Whitney J48-P-2 (derivado da Rolls-Royce Tay), (616 unidades).
F9F-5P – variante de reconhecimento fotográfico (36 unidades)
Especificações técnicas (F9F-2B)
- Motor: Um turbojato Pratt& Whitney J42-P-6 /-8 com empuxo seco de 2.650 kg
- Dimensões: envergadura 11,60 m; comprimento 11,30 m; altura 3,80 m; área alar 23 m²
- Pesos: 4.220 kg vazio; máximo de decolagem 7.462 kg
- Desempenho: velocidade máxima 925 km/h, alcance 2.100 km, teto de serviço 13.600 metros
- Armamento: 4 canhões M2 de 20 mm com 190 disparos cada e até 907 kg de bombas e foguetes de 127 mm em suportes sob as asas
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