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domingo, 26 de maio de 2024

O PRIMEIRO SUPERSÔNICO

 

Há 50 anos, a Força Aérea Brasileira (FAB) ingressava na era supersônica ao iniciar a operação dos mais avançados caças da sua época, o Dassault Mirage IIIE/D. Ao longo de 33 anos de serviço, o mítico avião de combate com asas em delta representou a bala de prata e a espinha dorsal da defesa aérea brasileira a partir do planalto central do Brasil.

De 5 a 10 de junho de 1967, a Força Aérea de Israel foi a protagonista na conhecida Guerra dos Seis Dias. E foi nas primeiras oito das 144 horas de duração daquele conflito que as Forças de Defesa de Israel aniquilaram, em um ataque surpresa, as forças aéreas do Egito, da Jordânia e da Síria que foram pegas em solo, sem qualquer chance de reação.

Uma das “estrelas” daquela guerra foi o Mirage IIIC, um caça de origem francesa que já havia sido exportado para alguns países em todo o mundo, mas que ganhou extrema notoriedade após aquela guerra relâmpago no Oriente Médio.

O Mirage IIIC foi desenvolvido para ser um interceptador de grande altitude para repelir os ataques dos bombardeiros estratégicos soviéticos contra a Europa durante a Guerra Fria. As suas asas em delta se tornaram uma das suas características mais marcantes. Ao decolar, em questão e poucos minutos, deveria atingir grandes altitudes para abater qualquer avião inimigo usando o grande, mas pouco eficiente, míssil ar-ar guiado por calor Matra R530.

No início da década de 1970, o Brasil estava em um processo de transformação da sua defesa aérea. Depois de muitos estudos e avaliações, e talvez com alguma influência da Guerra dos Seis Dias, o escolhido foi o Mirage IIIE, uma evolução da versão usada por Israel no conflito de 1967, com aperfeiçoamentos resultantes da experiência operacional do caça em serviço nos seus vários operadores.

Na primeira encomenda vieram 12 Mirage IIIE, de um assento, e quatro Mirage IIID, de dois assentos, para treinamento e formação operacional do piloto. Os primeiros exemplares foram entregues em 1972, trazidos parcialmente desmontados a bordo dos aviões cargueiros Lockheed C-130E Hercules. Ostentando uma pintura prateada, com o leme da cauda em verde e amarelo e um detalhe em vermelho nas entradas de ar do motor, o primeiro exemplar voou pela primeira vez nos céus brasileiros em 27 de março de 1973 e, até a sua desativação em 2005, o Brasil recebeu um total de 10 Mirage IIID e 22 Mirage IIIE.

Muito mais do que a simples compra de um novo armamento, o Mirage IIIE representou o início de uma nova era para a FAB por uma série de equipamentos e sistemas nele incorporados.

Aquele foi o primeiro avião supersônico a entrar em serviço no Brasil. Viajando a Mach 2.2, ou algo em torno de 2.400km/h, o Mirage IIIE tinha o seu próprio radar de busca que localizava alvos distantes até 25 milhas (40km), e um radar de navegação pulso Doppler, instalado do lado de fora, abaixo do cockpit.

O armamento consistia em dois canhões internos de 30mm e, o principal, um míssil ar-ar guiado por infravermelho, o Matra R.530. Todos esses conceitos e sistemas eram novos na FAB, que se capacitou para operá-los de maneira plena. A defesa aérea, naquele momento, voltou para o patamar do estado da arte.

Mas o Mirage estava inserido em um sistema de armas e a sua base de operação fazia parte desse conjunto. A cidade de Anápolis foi a escolhida para receber a 1ª Ala de Defesa Aérea (1ª ALADA), uma estrutura criada especificamente para operar com aquele novo vetor. Contando com as mais modernas instalações da FAB até então, o local ficava afastado da cidade, dispunha de áreas de dispersão para as aeronaves de alerta, áreas de escape, paióis modernos e condições para manter uma operação constante dos caças em situações de conflito.

A 1ª ALADA com os seus Mirage foi estruturada para fazer a defesa aérea da recém-criada capital federal do Brasil, da qual em voo, em regime supersônico, estava distante apenas três minutos. Em 11 de abril de 1979, a operação dos Mirage passou da ALADA para o 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA). Oito dias depois, a ALADA foi extinta e substituída pela Base Aérea de Anápolis.

Além da ALADA e dos caças, outra estrutura foi primordial para essa transformação da Defesa Aérea.

A operação do Mirage deveria ser feita em conjunto com uma estrutura de radares de solo para conseguir interceptar com eficiência as aeronaves inimigas em voo. Ao decolar, o Mirage seria orientado por um controlador de voo até chegar próximo ao alvo, de onde assumiria a interceptação por meio do próprio radar de bordo do caça.

Os sistemas até então existentes no Brasil não eram adequados e, para mudar esse cenário, o antigo Ministério da Aeronáutica aprovou a implantação do Sistema de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (SISDACTA).

Utilizando uma estrutura única de radares e instalações, a aviação militar teria pessoal especializado e capacitado para conduzir as interceptações, enquanto a aviação civil contaria com um espaço aéreo mais bem monitorado e controlado especialmente para os voos comerciais das companhias aéreas. O uso dual de uma mesma estrutura para duas finalidades é considerado um modelo até os dias de hoje.

Em 1976, 1982 e 1988 foram ativados em Brasília, Curitiba e Recife os 1º, 2º e 3º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA) para apoiar a operação de todo aquele novo conceito.

O 1º GDA foi o único esquadrão da FAB a operar o Mirage IIIE/D. Desde 19 de dezembro de 2022, a unidade fez a conversão para os modernos Saab Gripen E, um dos tipos mais modernos da atualidade que incorpora equipamentos e sistemas do estado da arte e que são os responsáveis por proporcionar uma nova transformação na FAB, colocando o Brasil na ponta da lança de sistemas avançados e inéditos em toda a América Latina. O 1º GDA volta a ser o protagonista da nova transformação da aviação de caça e da defesa aérea do Brasil.

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