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sexta-feira, 31 de março de 2017

Focke-Wulf Ta 183 Huckebein


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O Focke-Wulf Ta 183 Huckebein (nome de um corvo do folclore alemão) foi um projeto para um avião de caça a jato concebido como o sucessor do Messerschmitt Me-262 e outros caças ao serviço Luftwaffe durante o período final da Segunda Guerra Mundial.
Tratava-se de um projeto verdadeiramente revolucionário para a época mas que o final da Guerra condenou.
No entanto o projeto seria usado na Argentina, por um dos seus criadores, Kurt Tank, como base para a criação do primeiro caça a jato construído na América do Sul o FMA IAE Pulqui II.
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Ano
1945
Pais de Origem
Alemanha
Função
Caça
Variante

Tripulação
1
Motor
Peso (Kg)
Vazio
2380
Máximo
4300

Dimensões (m)
Comprimento
9,20
Envergadura
10,00
Altura
3,86

Performance (Km)
Velocidade Máxima
955
Teto Máximo
14000
Raio de ação

Armamento
4 x  canhões MK 108 de 30mm
4 × misseis  Ruhrstahl X-4  AAMs ou 500 kg  de bombas
Países operadores
-
Fontes
Wikipedia.org (características estimadas, em função das especificações do projeto)
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GALERIA
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Modelo a escala do Ta 183
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Representação artística
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Representação artística
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Representação artística
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Representação artística
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FMA IAE Pulqui II



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HISTÓRIA
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Hans Multhopp, um dos projetista do Ta 183
No início de 1945, o Reichsluftfahrt-ministerium (Ministério da Aviação do Reich) ficou a par da evolução dos jatos Aliados, e estava particularmente preocupado com o facto de poderem vir a enfrentar o Gloster Meteor sobre território Alemão . Em resposta, instituíram o chamado Programa de Caça de Emergência, terminando a produção de bombardeiros e outra aeronaves para transferir recursos para o desenvolvimento de caças, particularmente caças a jato. Além disso, aceleraram o desenvolvimento de projetos experimentais como forma de obter vantagem sobre os projetos dos Aliados, e que visavam a substituição dos primeiros caças a jato alemães o Messerschmitt Me 262 e Heinkel He 162.

No final de 1942, o engenheiro Focke-Wulf Hans Multhopp liderando uma equipe de projeto começara estudos aerodinâmicos para um novo caça a jato. Isso culminou em 1945 como um projeto para um caça conhecido como " Huckebein, também conhecida como Projeto V (Project VI em algumas referências) ou Projeto II pela Focke-Wulf e mais tarde com a designação de Ta 183. 

Ulrich Stampa assistente de Kurt Tank
 prepara o lançamente do modelo de voo livre
 a escala do Ta 183, 1945
O desenho do Ta 183 apresentava uma fuselagem baixa e atarracada, com a entrada de ar a passar sob o cockpit para a traseira, onde o único motor a jato Heinkel HeS 011 estaria localizado. As asas eram muito finas em posição de asa média, e em flecha num angulo de 40 graus. A asa seria de construção mista em duralumínio, aço e madeira compensada. Cada painel da asa teria seis tanques de combustível no total de 1.565 litros. Oestabilizador vertical formava um angulo de cerca a 60 graus, com os estabilizadores horizontais montados na sua parte superior. Os flaps e trem de aterragem seriam operados hidraulicamente. O piloto teria uma cabine pressurizada com uma carlinga em bolha que ofereceria excelente visão em todos os ângulos. Seria armado com quatro canhões MK 108 de 30mm, e poderia transportar uma carga ofensiva de 500 kg de bombas ou outro armamento disponível na época que seria realizada no espaço de equipamentos na parte inferior da fuselagem ficando parcialmente fora da fuselagem.

Desenhos do protejo
Em 27 e 28 de fevereiro de 1945, o OKL- Oberkommando Luftwaffe (Alto Comando da Luftwaffe ), escolheu o Ta 183 para ser desenvolvidos e produzido. Haveria dezasseis versões experimentais: os Ta 183 V1-V3 seriam alimentado pelo Junkers Jumo 004B, os Ta 183 V4-V14 seriam aeronaves de pré-produção já equipadas com o motor Heinkel HeS 011 e V15-V16 seriam aeronaves de teste estático. O voo inaugural da primeira aeronave foi previsto para Maio ou Junho de 1945 e a primeira aeronave de produção foi programada para ser concluída até outubro de 1945. Porém não há notícia de que algum Ta 183 tenha sido concluído até 08 de abril de 1945, data em que as tropas britânicas capturaram as instalações da Focke-Wulf. 

Após o fim da guerra, Kurt Tank , no exílio na Argentina, ressuscitou o projeto do Ta 183, resultando no FMA IAE Pulqui II. Esta versão foi modificado para colocar as asas em posição de asa semi-alta, a fim de evitar uma pesada longarina de fuselagem, estrutura que passava em redor do motor, no entanto, isso resultou  em problemas com ângulos de ataque elevados. Foi planeada uma versão para corrigir esse problema, no entanto, a crise financeira de 1953 e a queda de Juan Peron suspendeu temporariamente o projeto e em 1955, o projeto foi abandonada devido à disponibilidade de F-86 Sabre a uma fração do custo, derivados dos excedentes da terminada Guerra da Coreia.
Comparação dos perfis do Ta 183 e do MiG 15

Historiadores incluindo David Myrha têm defendido que o Mikoyan-Gurevich MiG-15 foi pelo menos inspirado no projeto do Ta 183, cujos planos foram capturados pelo Exercito Vermelho no final da II Guerra Mundial. As aeronaves são diferentes em termos de estrutura, detalhes e proporções, mas partilham semelhanças como as asas em flecha num angulo semelhante, estabilizador vertical (cauda) em ângulo semelhante, estabilizadores verticais em posição superior, e entrada de ar para o motor montada no nariz.
Saab 29 Tunnan
A história detalhada do MiG-15 foi publicado pelo historiador da aviação russa Yefim Gordon refuta qualquer conexão entre o Ta 183 e MiG-15. 

Tal como o MiG-15, o Saab 29 está também sujeito a acusações de ter sido indiretamente influenciado pelo Ta 183, uma vez que os engenheiros da SAAB receberam os estudos da investigação alemã das asas em flecha, no período imediato pós-guerra através de contactos na Suíça, e incorporaram-nos na conceção do Saab J 29 Tunnan, cujo projeto estava ainda numa fase embrionária nessa altura.
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DESENHOS
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PERFIL
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FONTES

terça-feira, 14 de março de 2017

TU 144 o Concorde russo, é o avião de passageiros mais rápido do mundo


Imagine voar os 8000 quilômetros que separam Moscow de Vladivostok do outro lado da Rússia em apenas 3 horas e 30 minutos. Agora imagine por um momento que fosse possível voar os 4000 quilômetros entre Porto Alegre e Manaus em menos de 2 horas. Hoje nenhum avião comercial consegue fazer isso mas o TU 144, o concorde russo, conseguia nos anos 70!
Voando a uma velocidade de crucero de Mach 2 ou 2450 quilômetros por hora o Concorde russo ultrapassava a velocidade de rotação da terra, feito que somente os aviões de caça mais modernos, e o superman, conseguiam alcançar.
O Tu 144 podia decolar de Moscow após o por do sol e chegar ao seu destino de dia, alias, você podia ver o por do sol duas vezes no mesmo dia! Esse era o Tupolev Tu 144, o Concorde russo.
Tudo isto acontecendo no final dos anos 60 e começo dos 70, menos de 15 anos após os aviões a jato começarem a ser o padrão nos voos comerciais.
Historia
Chamado com razão pelos trolls ocidentais de “Concordski”, o Tu 144 teve seu voo inaugural em dezembro de 1969 e significou o fim de uma corrida contra relógio para lançar o avião antes que os europeus lançassem o Concorde. O projeto para construir o Tu 144 caiu no colo da Tupolev devido a uma ordem que veio desde a cúpula da URSS para construir um Concorde maior, melhor e mais veloz.
Na URSS dos anos 60/70 isto era parte da constante concorrência com o ocidente para mostrar ao mundo quem tinha o maior 😉 e nisso os russos eram bitolados e até obcecados ao ponto do patológico. Quando o KGB veio com a fofoca de que ocidente estava planejando o Concorde os soviéticos imediatamente copiaram os planos e mandaram para o escritório de Tupolev, o único com longa experiencia em quibar na cara de pau os projetos ocidentais. No seu currículo tinha o Tu 4 que era uma cópia descarada do B-29 americano. Para conseguir o feito os russos fizeram engenharia reversa em vários B-29 que tinham pousado de emergência na URSS durante a guerra.
Tupolev então trabalhou de forma incansável. A pressão era tanta que um engenheiro teria dito durante o voo inaugural que aquele não era o teste do Tu 144, era o teste dos próprios nervos! O Tu 144 fez seu primeiro voo um 31 de dezembro de 1969, 3 meses antes que o Concorde.
Poucos meses após o voo inaugural o Tu 144 fez outro voo ultrapassando a velocidade do som e se convertendo no primeiro avião comercial a quebrar esta barreira, novamente messes antes do Concorde. Também foi o primeiro a voar a mais de Mach 2.
Entrada em serviço, acidentes e o fim da linha
Contrario ao que aconteceu com o Concorde que teve uma longa vida de serviço comercial, o Tu 144 viu pouco serviço e poucas unidades foram construídas. Para falar a verdade todo o lance com este avião era uma questão da propaganda, uma vez alcançado este objetivo a coisa andou bem mais devagar, principalmente após um serio acidente que teve durante uma exposição aérea em Paris.
Este acidente causado aparentemente por um Mirage III que ao se acercar ao Tu 144 para fotografar teria forçado ao piloto a fazer uma manobra que desestabilizou o avião com o consequente aumento de forças na assa que a fez quebrar, deste posto o Tu 144 começou a se desintegrar, caindo numa grande explosão.
Este acidente foi ruim para os soviéticos e pior para os europeus já que várias empresas que tinham feito pedidos do Concorde desistiram e somente duas empresas compraram o avião e o operaram até o fim dos seus dias.
Pouco tempo depois a Aeroflot russa deixaria de usar o Tu 144 transformando o avião em plataforma de testes apenas. Foi durante estes anos que o Tu 144 quebrou vários recordes de altitude e velocidade. Em 1983 um Tu 144D quebrou 13 recordes mundiais de transporte de cargas a grandes velocidades e altitudes.
Hoje além daqueles exemplares que estão em museus e outros abandonados, como este que foi achado em Kazan, tem um que foi operado pela NASA nos anos 90 ainda em condições de voo porém que provavelmente vai virar monumento ou peça de museu.
Numa época em que as empresas comerciais buscam reduzir custos ao máximo será difícil ver a curto prazo um substituto para os Concorde e Tu 144. O que nos sobra é lembrar de uma época em que você podia voar de Paris a New York sobre o oceano Atlântico a duas vezes a velocidade do som, feito que hoje é impossível, quem diria!
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MiG-31 BM pronto para operar na Força Aérea Russa

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A versão modernizada do interceptador Mikoyan MiG-31 “Foxhound” está pronta para entrar em operação.
Segundo os russos, com novas capacidades, o MiG-31 BM poderá interceptar aeronaves stealth, mísseis de cruzeiro e drones hipersônicos. Ele é capaz de engajar seis alvos simultâneamente e rastrear 10.
A Rússia planeja atualizar mais de 60 interceptores MiG-31 para a versão MiG-31BM até 2020. A versão modernizada está equipada com aviônicos atualizados e links de dados digitais, um novo radar multimodo, telas coloridas multifuncionais no cockpit, e um sistema de controle de armas mais poderoso. Ele pode detectar alvos aéreos na faixa de 320 quilômetros (200 milhas) de distância e, simultaneamente, rastrear até 10 alvos.
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MiG-15 X F-86, A PRIMEIRA GUERRA A JATO

Hoje, sobreviventes de uma guerra a jato (Richard Seaman)
Hoje, ex-inimigos, juntos (Richard Seaman)

MiG-15 em vôo nos EUA, de propriedade de particular. Um avião cultuado por entusiastas (taringa.net)
MiG-15 em vôo nos EUA, de propriedade de particular. Um avião cultuado por entusiastas (taringa.net)
Quando criança assisti um filme sobre a guerra da Coréia que me fez maravilhado com as imagens aéreas. Chama-se “Raposas do Espaço”, um título nacional bem ruinzinho para o original americano “The Hunters” (os caçadores).
Agradecimento especial ao amigo de longa data, Fernando, por lembrar o nome do filme. Pesquisei por uma boa meia-hora na internet e não encontrei, e o Fernando matou a dúvida em uns 15 segundos, coisa de quem tem uma memória prodigiosa.
Foi nesse filme de 1958 que tomei conhecimento de forma mais perfeita possível para alguém tão longe dessa realidade, do que era um combate aéreo entre aviões propelidos a jato, sem as hélices, que na simplicidade da infância achamos ser algo antigo.
Esse filme não mostra apenas Sabres e MiG-15, mas foi minha referência por anos, e vale a pena ser visto. Um trailer está aqui nesse link.
São momentos mágicos esses da infância, onde aprendemos as novidades do mundo, que depois do tempo passado descobrimos que podem ou não ser muito diferentes da realidade.
No caso dos aviões, para mim sempre foram e serão algo encantador, mesmo não sendo usados sempre para a alegria de todos ao seu redor, como em guerras por exemplo.

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Os Sabres usavam faixas coloridas, para evitar serem confundidos com o MiG-15 (Wikipedia)

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São poucas as fotos dos MiG-15 em vôo na época da guerra (militera.lib.ru)

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Sabre perseguido por um MiG-15 (acepilots.com)
Logo após a Segunda Guerra Mundial os entusiastas da aviação, políticos, militares e até o Papa, já sabiam que o próximo conflito veria combates aéreos entre aviões a jato. Os Messerschmitt Me-262 e Gloster Meteor tinham sido usados nesse conflito, mas não  combatido entre si. Porém, encontrar um jato inimigo pilotando outro era inevitável em pouco tempo, já que a humanidade ainda não vive sem guerras, e os aviões com motores a pistão já eram superados para algumas atividades, o combate de perseguição  sendo a principal, onde a velocidade é fator-chave.
Os dois aviões de nosso texto de hoje foram concebidos mesmo antes desse conflito terminar.  O Sabre já estava nascendo em 1944, ano em que o conceito foi submetido à Força Aérea Americana pela North American Aviation, e foi sendo alterado em vários pontos após o final do conflito mundial, quando se obtiveram muitas informações provindas da Alemanha e seus projetistas e fabricantes de aviões.
O Sabre voou em 1º de outubro de 1947 pela primeira vez, e chegou a situação operacional em 1949, tendo sido produzido nos EUA, Canadá, Austrália, Itália e Japão, num total de 9.860 unidades, sendo empregado por 27 forças aéreas até a década de 1980.
O Mikoyan-Gurevich MiG-15, surgiu na mesma época do Sabre, tendo voado em 30 de dezembro de 1947, com a finalidade principal de ser uma caça de interceptação de bombardeiros. Seu motor é uma cópia modificada do Rolls-Royce Nene, do qual três  unidades foram compradas  pelos soviéticos, acompanhadas de desenhos de projeto, com consentimento do governo britânico, para uma licença de produção para a empresa fabricante de motores Klimov.
Uma história boa é sobre o que os russos fizeram ao visitar a fábrica da RR. Sem ter certeza que o negócio daria certo, eles se demoraram na área onde eram fabricadas as palhetas da turbina, cujo material não era dominado pela tecnologia russa. Os membros da comissão visitante calçavam sapatos som sola de borracha macia, para que cavacos do metal se prendessem facilmente, e lá eles pisaram firmemente e o máximo possível, para trazer o metal preso às solas. Deu certo, e antes mesmo dos motores chegarem à Rússia algumas semanas depois da visita, já se sabia qual era o material de sucesso empregado pelos britânicos.
Depois de anos, a Rolls-Royce tentaria receber uma grande quantia pelo negócio, mas caiu do cavalo, como era de se esperar ao se tratar com o comunismo.
No começo, os MiG não tinham sistemas de controle das superfícies aerodinâmicas, o leme, profundores, flapes, de comando hidráulicos. Era tudo por cabos, como aviões de motor a pistão. Ao longo de sua evolução os comandos hidráulicos foram adotados. O Sabre já nasceu com sistemas hidráulicos.
Começada a guerra da Coréia em 1950, ambas as metades do mundo, capitalistas e socialistas, enviaram suas forças para ajudar a cada uma das duas frentes de pensamento político-econômico do planeta (ao menos as duas mais propagandeadas), cada uma com suas armas voadoras a jato, e certamente, os soviéticos e norte-coreanos ficaram tão abismados quanto os americanos ao se depararem com o desempenho da arma do inimigo, dependendo da situação.
As dúvidas sobre qual era o real desempenho do avião soviético só começaram a ser sanadas pelos americanos dois meses após o final do conflito, quando em setembro de 1953 um piloto norte-coreano desertou para a Coréia do Sul com um MiG-15.

Logo após a deserção, o MiG-15 na base na Coréia do Sul (talkingproud.us)
Logo após a deserção, o MiG-15 na base na Coréia do Sul (talkingproud.us)
O avião foi transportado em um C-124 Globemaster para Kadena, em Okinawa, Japão, base aérea americana. Lá, pilotos de provas voaram o avião com marcas e insígnias da força aérea americana colocadas para evitar qualquer incidente, traçando seu envelope de vôo, um diagrama gráfico que mostra as relações entre velocidades, altitudes, fatores de carga na estrutura (em gravidades) e outros dados, todos plotados para serem entendidos os limites de operação segura de uma aeronave.

Um envelope de vôo (Wikipedia)
Um exemplo de envelope de vôo (Wikipedia)
Dessa avaliação quantificou-se  o que já se sabia na prática, mas sem detalhes numéricos. Um dos que fizeram esse trabalho foi o Coronel Charles “Chuck” Yeager, o primeiro homem a  romper a barreira do som.
Há um vídeo mostrando alguns momentos dessas avaliações, que demora um pouco a carregar, nesse link.
Depois de concluído o trabalho, o avião foi considerado sem utilidade adicional, passando para a guarda do museu da USAF, localizado em Dayton, estado de Ohio, na base aérea desativada Wright-Paterson. Hoje, está exposto lá, com a pintura original norte-coreana, que foi refeita.

O MiG-15 com inscrições americanas, em avaliação pela USAF (Wikimedia)
O MiG-15 com inscrições americanas, em avaliação  (Wikimedia)

MiG-15
Com a pintura original refeita, no museu da USAF (acepilots.com)
Algumas conclusões foram as seguintes.
As primeiras versões do Sabre, A e E, eram mais lentas acima de 30.000 pés (9.144 metros) do que o MiG-15, e, abaixo disso, a situação era inversa. Após a versão F do Sabre entrar em operação, mais 5.000 pés (1.524 m) de vantagem eram garantidos para este.
Para atingir 45.000 pés (13.716 m) , o MiG-15 levava nove minutos, contra treze do F-86.  Nesse quesito, o peso manda, e a desvantagem era de cerca de duas toneladas a mais para o Sabre, com carga e combustível máximos.
O Sabre tinha peso total de decolagem de 8.234 kg com tanques extras, e o MiG-15 chegava a 6.105 kg, com essa diferença aparecendo claramente nas distâncias de decolagem, com 762 metros no avião soviético e 1.115 m no americano.
No tamanho, o Sabre é pouco maior, com 11,31 m para 10,08 m do MiG no comprimento, 11,44 m versus 11,06 m de envergadura e 4,49 m versus 3,40 m de altura.
Mas visualmente o maior volume do Sabre se dá por causa da configuração de tomada de ar com o duto de entrada passando por baixo da cabine, dando altura grande de fuselagem. No MiG-15, a cabine está dentro do duto de ar, que é dividido ao meio por esta. Além disso, as asas do Sabre estão enraizadas abaixo da fuselagem, e as do MiG-15 são a meia altura da fuselagem.

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Esquema geral do avião soviético (airfighters.com)

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Lindo desenho de lay-out do Sabre (Jefferies)

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Note a divisão do duto de ar no MiG-15 (airplanepics.com)

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Posição das asas é facilmente vista de frente (Richard Seaman)

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Fuselagem do MiG-15 é mais curta mas empenagem quase iguala comprimento (Richard Seaman)
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Poucas visões são mais belas na aviação (Richard Seaman)
O MiG-15 levava 1.420 litros no tanque atrás da cabine, mesma posição do Sabre, que tinha tanque interno de 1.650 litros. As autonomias eram de 1.240 km no MiG e 2.454 km no Sabre equipado com tanques suplementares externos, condição mais comum de operações, com esses tanques externos sendo soltos no momento de combate para facilitar as manobras e diminuir arrasto aerodinâmico.
Os tetos de serviço eram díspares. Mesmo assim, o Sabre ia até 51.000 pés (15.554 m), e o MiG alcançava 55.000 pés (16.764 m), onde ocorria facilmente o embaçamento dos vidros, que só se dissipava ao baixar bastante a altitude, onde os Sabres rondavam. Versões posteriores do MiG-15 tiveram essa falha corrigida.
Subindo, o MiG-15 era também mais rápido, com 10.100 pés por minuto (3.078 m/min) de razão de subida, contra 7.400 (2.252 m/min) nas primeiras versões do Sabre,  e depois 9.300 pés por minuto (2.834 m/min) na versão F. Mesmo a mais avançada versão do Sabre nunca teve razão de subida tão boa quanto à do MiG-15, provando de novo que a diferença de peso é fundamental.
A diferença de peso era muito grande a favor do avião do birô de projetos Mikoyan-Gurevich, em parte devido a uma estrutura bem mais leve que não era estado da arte, e tinha limitações de resistência. Precisava ganhar em velocidade e altitude, pois em manobras mais apertadas a vantagem do F-86 era notória, com acidentes ocorrendo com os MiG-15 apenas devido a curvas muito fechadas que provocavam a quebra de elementos estruturais, um deles o leme de direção, uma parte que é nitidamente desproporcional no desenho do avião.
Mesmo com raio de curva menor no avião soviético, os bons pilotos de Sabre forçavam os MiG-15 até que esses fossem danificados. Isso não é estorinha, foi a realidade de muitos encontros entre esses dois aviões sobre o teatro de guerra.
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Elementos do MiG-15 em desenho (aviation-pics.com)
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Estrutura do Sabre, sem os demais componentes (airfighters.com)
Há também o importante fato de que os americanos dispunham de macacões anti-G, que seguram a circulação nos membros do corpo do piloto em altas acelerações, enquanto que os norte-coreanos e soviéticos não os tinham. Dessa forma, as manobras mais fortes podiam resultar em desmaio do piloto do MiG-15 e perda de controle, e ao recuperar a consciência —  se recuperasse —  poderia ser muito tarde para colocar o avião sob seus comandos. Essa é a explicação que muitos julgam ser a mais verdadeira para as perdas de controle no MiG-15, e não falhas na estrutura.
Mesmo quando não ocorriam problemas de estrutura, o desenho de asa do MiG-15 podia levar a uma perda de sustentação (estol) rápida em curvas, provocando parafusos que demorando a serem revertidos, podiam se tornar parafusos chatos, sendo de difícil recuperação, podendo resultar na perda do avião. Isso era mais grave ainda no desenvolvimento, quando a melhor solução encontrada foi a adição de duas aletas verticais sobre as asas, chamadas de wing fence, ou cerca de asa. Esse componente direciona o ar para que ele atue com mais eficiência sobre a asa para melhorar o trabalho dos ailerons e flapes, nas bordas de trás, o bordo de fuga.

Os wing-fence sobre a asa do MiG-15 (autor)
Os  dois wing-fence sobre a asa do MiG-15 (autor)

A certeza geral é que o MiG-15 é um avião mais difícil e de mais sensível pilotagem, por ter área de ailerons pequena em relação à área de asas e o peso total. A recuperação de estol difícil ou impossível pode ocorrer principalmente devido à posição alta dos profundores, que os faz ficar mergulhados na turbulência das asas, o que não gera um fluxo de ar direcionado e com velocidade suficiente para que o piloto possa recuperar o controle. É uma situação em que falta autoridade de profundor. Esse estol é conhecido em inglês como deep stall, ilustrado de forma simplificada na imagem abaixo.

Na imagem de baixo, o profundor imerso na turbulência da asa, condição de perigo (Wikimedia)
No desenho inferior, o profundor imerso na turbulência da asa, condição de perigo (Wikimedia)
Mesmo com vantagem de velocidade, a situação em regime transônico, perto da velocidade do som, Mach 1,  era problema para o MiG-15. Ele se tornava instável acima de Mach 0,86 e incontrolável  em 0,94 ou 0,95. Assim, mesmo tendo desvantagem de empuxo, o Sabre podia escapar do oponente após uma subida em potência máxima e um mergulho de alta velocidade, onde esse escorregava sólido, e o avião soviético se desestabilizava, fazendo o piloto do regime comunista ter que desistir da perseguição, ou se insistisse muito, danificar seu avião, algo muito pouco saudável.
As velocidades máximas eram de 1.060 km/h para o MiG-15 e 1.100 km/h no Sabre, muito similares.
A versão  F do F-86 tinha alterações nas asas, que ficaram conhecidas como 6-3, um kit de reforma (retrofit) que era aplicado em campo pelas equipes de manutenção, fazendo o raio de curva diminuir, e caso entrasse em parafuso, a recuperação era feita apenas aliviando a força de pé e mão sobre os controles e deixando o avião se estabilizar sozinho, para depois fazê-lo subir. Mesma característica de bons aviões de treinamento, e quase à prova de erros. Esse kit tinha basicamente a função de aumentar a corda da asa, a dimensão longitudinal desta.
Essa era a principal característica do Sabre, uma qualidade de vôo excepcionalmente boa e simples, sem vícios, sendo facilmente bem pilotado para pessoas com experiência suficiente. Era a virtude principal desse belo avião, que compensava seu menor empuxo de motor e maior peso.
Outro ponto interessante do MiG-15 era seu armamento de 3 canhões, um de 37 mm e dois de 23 mm. Eles foram feitos para ataque a bombardeiros, e eram um pouco superdimensionados em potência para um avião inimigo de tamanho similar. Apenas 200 projéteis para esses 3 canhões era uma verdadeira mixaria, além de terem uma taxa de tiro pequena, melhor para ataque a aviões lentos de manobras como os bombardeiros, não contra aviões pequenos e ágeis, e que ficaria por muito mais tempo engajado em combate. Diga-se de passagem, esses combates que vemos em filmes são versões estendidas da realidade. No mundo real, qualquer tempo de troca de tiros além de 30 segundos é extremamente raro. Podem sim ocorrer perseguições por tempos bem maiores que isso, mas como a munição nunca é farta, as trocas de tiros são sempre curtas, e sabendo disso, os pilotos sempre tentam atirar e escapar o mais rápido possível.
Todas as 3 armas e sua munição eram facilmente removidas do avião por um sistema daqueles tão simples quanto geniais. Uma prateleira-elevador com cabos de aço,  carretilha e polias, movida manualmente.

Armas baixadas pelos cabos, todo o conjunto desce e sobe facilmente (aircraft.walkaround.hobbyvista.com)
Armas baixadas pelos cabos, todo o conjunto desce e sobe facilmente (aircraft.walkaround.hobbyvista.com)

Vista dianteira permite ver a diferença de calibre entre os canhões (talkingproud.us)
Vista dianteira permite ver a diferença de calibre entre os canhões (talkingproud.us)
O Sabre, com suas seis metralhadoras 0,50 pol e 1.600 cartuchos, era mais rápido na reação, mas muitas vezes não se conseguia uma boa seqüência de  tiros em local certo, já que essa arma era bem menos potente que os canhões do MiG-15, que conseguiam escapar mesmo bastante perfurados, sem serem abatidos.

Rearmamento de um Sabre (jetpilotoverseas.files.wordpress.com)
Rearmamento de um Sabre (jetpilotoverseas.files.wordpress.com)

Harmonização das seis metralhadoras, para que todas converjam para o mesmo ponto a uma certa distância. Cerca de 300 metros para o Sabre (members.shaw.ca)
Harmonização das seis metralhadoras, para que todas convirjam para o mesmo ponto a uma certa certa distância. Cerca de 300 metros para o Sabre (members.shaw.ca)
Os projetistas e engenheiros da Mikoyan-Gurevich tomaram a manutenção fácil como ponto de honra, e além da prateleira de armas, a parte traseira da fuselagem era removida por completo junto com a empenagem, para fácil acesso ao motor.

Linda foto de um MiG-15 com a cauda removida (airfighters.com)
Linda foto de um MiG-15 com a cauda removida (airfighters.com)
Mesmo assim, dez vezes mais MiGs-15 foram eliminados por F-86s. São 798 contra 78 vitórias confirmadas, com mais 118 prováveis MiGs, e 13 Sabres. Essas chamadas de prováveis são vitórias não confirmadas, então melhor contar o número das certas. Dez vezes a menos para o avião soviético, que tinha pilotos mais jovens e muito menos treinados que os americanos, muitos deles veteranos da Segunda Guerra Mundial, como por exemplo Chuck Yeager e Bud Anderson.
Outro piloto de Sabre que ficou bastante famoso após o conflito é Gene Kranz, que se tornaria o mais lendário diretor de vôo da Nasa, tendo trabalhado desde o início do programa espacial Mercury, até vários anos adentro do Space Shuttle. Kranz era o Flight Diretor da missão Apollo XIII, tendo sido ele a proferir a famosa frase “Failure is not an option” — A falha não é opção — quando reuniu os engenheiros em busca de uma solução para a filtragem do oxigênio na cápsula.
Não há como falar de combates entre aeronaves sem levantar o assunto qualidade dos pilotos. Para o lado americano, a situação era mais tranqüila, pois a experiência acumulada era bem maior. Havia muita gente que já combatera na Segunda Guerra Mundial. Os soviéticos  também tinham pilotos veteranos, mas em bem menor quantidade e os norte-coreanos eram muito menos experientes.
Além disso, os soviéticos tiveram a missão dificultada por serem eles a treinar os norte-coreanos, e a carga de trabalho era muito aumentada. Combater e ainda ter que ensinar era muita coisa a ser feita, exigindo demais do corpo e da mente. Isso os fez mais sujeitos a incidentes, como por exemplo descarregar suas armas e tanques suplementares para diminuir o peso e escapar dos F-86, e nem mesmo entrar em combate a não ser que a vantagem fosse muito grande em altitude, principalmente.

MiG-15 no Museu da Aviação Naval, em Pensacola, EUA (autor)

O Sabre teve uma versão naval, batizado de Fury (autor)
Ao final do conflito entre as duas aeronaves, conclui-se o que muita gente com experiência nessa área sempre diz: é melhor um avião razoável com pilotos ótimos do que pilotos razoáveis em aviões superiores.
Hoje em dia há vários desses aviões ainda em condições de vôo, nas mãos de particulares e museus com aeronaves que voam. Há várias imagens e muitos vídeos sobre ambos disponíveis, além de um sem número de livros abordando tanto os combates quanto as análises técnicas desses dois importantes aviões.

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MiG-15 em show aéreo na base de Nellis, Nevada (air-pics.com)

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F-86 Sabre no Valiant Air Command Museum, Titusville, Florida (autor)

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O MiG-15 de dois lugares ao lado de um F-86. Ambos são operacionais (autor)

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O Sabre das fotos acima, em vôo (aero-pix.com)

O Mig-15 é bem baixo, aparentando ser bem menor que o Sabre (autor)
O Mig-15 é bem baixo, aparentando ser bem menor que o Sabre (autor)