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domingo, 2 de junho de 2024

A concepção dos EUA de superioridade aérea 20 anos após a introdução dos caças F-14 Tomcat e F-15 Eagle

 

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Passados 20 anos (em 1994) da introdução dos caças F-14 Tomcat e F-15 Eagle nos inventários, respectivamente, da Marinha (US Navy) e da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), é importante proceder a uma rápida avaliação, não só do que representou para os EUA este novo conceito básico, incorporado em termos efetivos na década de 1970, como ainda da própria concepção americana de superioridade aérea nos dias atuais.

No imediato pós-Segunda Guerra Mundial e, particularmente, na década de 1950, os EUA possuíam primariamente duas acepções diferentes de aviões de caça: os caça-interceptadores (F-101 VooDoo, F-102 Delta Dagger F-104 Starfighter e F-106 Delta Dart) e os caça-bombardeiros (F-100 Supersabre e F-105 Thunderchief).

Os caças da série Century.

A primeira categoria contava com aeronaves de defesa do espaço aéreo continental da América (CONUS, da sigla em inglês) contra bombardeiros soviéticos e, excepcionalmente, um equipamento (F-104) padrão, operacional, à época, nos países da OTAN e Japão, de maior versatilidade com capacidade adicional de combate contra outros caças táticos.

Na segunda, por sua vez, havia as aeronaves de interdição, com limitadas manobrabilidade e capacidade de combate ar-ar (vide o razoável número de Thunderchiefs derrubados por MiGs de diversos modelos nos céus do Vietnã).

Até então, a força aérea e a Marinha embarcada não contavam com uma verdadeira aeronave que pudesse ser (corretamente) enquadrada na categoria “aberta” dos caças e que fosse provida por consequência, de capacidade múltipla de combate aéreo (dogfighter) e ataque ao solo.

O caça naval F-4 Phantom II, introduzido no início da década de 1960, sob esta ótica, foi a resposta mais adequada a este autêntico vazio na força aeroespacial norte-americana. O avião, essencialmente um caça biplace de grande tamanho e alto desempenho (Mach 2.2, elevada altitude e carga alar superior a 7 tonelada e razoável manobrabilidade), constituiu-se em inegável sucesso, inclusive em ações no Vietnã, tanto que a USAF e posteriormente, os Fuzileiros Navais logo se interessaram e adquiriram o modelo dos quais foram fabricados mais de 5.500 exemplares, em diversas versões (incluindo o RF-4 de reconhecimento tático) para inúmeras forças aéreas aliadas.

O surgimento do MiG-25 Foxbat, – originalmente desenvolvido para se contrapor ao fantástico bombardeiro XB-70 Valkyrie (desenhado no final da década de 1960 como sucessor do B-52, em forma de cunha, com capacidade de manobra a elevada velocidade e possibilidade de atingir Mach 3.0 a altitudes superiores a 25.000 metros, com seis motores GE J 93 de 14.060kg de empuxo, peso total de 238 toneladas, alcance de 12.000km e dimensões impressionantes: 56m de comprimento, 32m de envergadura e 9m de altura, além de asas dobráveis em voo) -, apresentado, pela primeira vez, em 1968, na mostra de Moscou, e o primeiro contato de sua versão de reconhecimento, baseado na Síria, com um F-4 israelense a 18.000m de altitude e velocidade de Mach 2.8 (acima portanto das possibilidades de interceptação do Phantom), contudo, demonstrou a necessidade urgente de um novo avião de alta performance e que, diferente dos interceptadores YF-12 (cujos protótipos foram entregues a NASA) e YF-108 (que não chegou a ser construído em 1968/69), pudesse desempenhar, com sucesso, as missões básicas de um genuíno caça, a exemplo do próprio F-4 Phantom II.

Em 1969, foram definidos dois desenhos básicos: o do McDomell Douglas F-15 Eagle (Mach 2.5) e o Grumman F-14 Tomcat (Mach 2.34) provido de geometria alar variável, baseado na experiência acumulada com o caça-bombardeiro General Dynamics Grumman F-111 (Mach 2.5).

Apesar do melhor desempenho do F-15 (relação empuxo-peso de 1:1) desenvolvido pela Douglas (vencedor da concorrência que se estabeleceu no final da década de 1960 e início dos anos 1970), o F-14 (relação empuxo-peso de 1:0 e velocidade de Mach 2.34), dotado de mísseis AIM-54 Phoenix (originalmente desenvolvido para uma versão de interceptação do F-111), mostrou poder praticamente igualar os níveis de performance em combate de seu oponente, fazendo com que a Marinha (pressionada também por considerações de eventual falência da Grumman Aerospace com o possível cancelamento do projeto, o que, inclusive, conduziu a equivocada decisão de vender 80 exemplares completos do F-14 ao Irã) optasse, posteriormente, pela aquisição inicial de pouco mais de 390 Tomcats após a compra de 729 unidades do F-15 pela USAF.

Na apresentação oficial do F-15 Eagle, em 26 de junho de 1972, o avião, com inúmeras inovações, tais como entradas de ar móveis em seus 2 motores turbofan PW F-100 (o mesmo utilizado no monomotor F-16 Falcon), freio aerodinâmico no centro da fuselagem que lhe permite maior manobrabilidade em voo (o F-15, embora com mais do que o dobro das dimensões do F-5E Tiger II, até então a aeronave de maior manobrabilidade da Forca Aérea Americana, é ainda mais ágil, tendo demonstrado, em testes iniciais, poder perseguir este pequeno caça em qualquer condição preestabelecida), uma combinação ampla de armamento (em termos básicos: 4 mísseis ar-ar AIM-7 Sparrow de médio alcance, 4 mísseis AlM-9 Sidewinder de curto alcance e um canhão Vulcan de 20mm), mostrou, em última análise simplesmente, um novo conceito de superioridade aérea, fundada em alta tecnologia qualitativa (em detrimento de quantidades desdobradas) superior (ainda que à custos extremamente elevados), além de uma revolucionária concepção de emprego de força aérea.

Desde sua entrada em serviço pré-operacional, em 14 de novembro de 1974 (e em serviço ativo pleno em 1976), o F-15 (com capacidade bélica de 7.2 toneladas) não só recuperou diversos recordes mundiais conquistados pelo MiG-25 (salvo o de velocidade máxima, estabelecida em 1976 pelo SR-71 Blackbird do SAC/USAF) e alguns, eventualmente ainda em poder do F-4 Phantom II, como também estabeleceu juntamente com seu parceiro naval F-14 (com capacidade bélica de 6.8 toneladas) dois decênios de absoluta primazia aérea que não chegou a ser ameaçada sequer pela nova geração de caças da extinta União Soviética: MiG-29 Fulcrum (equivalente ao F-18 Hornet), MiG-31 Foxhound (versão aperfeiçoada do MIG-25) e SU-27 Flacker (o caça soviético de maior desempenho, desenvolvido para se contrapor aos americanos F-15 e F-14).

Posteriormente, novas versões do F-15 (inclusive com capacidade anti-satélite), como o STRIKE EAGLE (F-15 E), e do F-14C (repotenciado), e, mais tarde, do F-14D Super Tomcat foram desenvolvidas, enquanto se aguardava a entrada em operação do novo caça F-22 (vencedor da concorrência com o F-23), que, a exemplo do F-117 (avião de ataque), do B-2 (bombardeiro estratégico de US$ 2 bilhões o exemplar, razão pela qual apenas 20 aviões foram encomendados) e do Aurora (substituto do SR-71 para reconhecimento estratégico de alta velocidade, com desempenho superior a Mach 5.0 e elevada altitude), também empregava tecnologia furtiva (Stealth), sendo classificados como de 5ª geração.

A ideia era desdobrar na força uma aeronave ainda superior para dar continuidade ao verdadeiro reinado estabelecido com a dupla Eagle/Tomcat por mais de 20 anos. Vale reafirmar que a introdução dos caças F-14 e F-15 nas forças armadas estadunidense representaram um verdadeiro marco e uma guinada definitiva em direção às teses, desenvolvidas na década de 1960, que defendiam, à luz das diversas experiências acumuladas (inclusive no Vietnã), uma força aérea quantitativamente menor, porém provida de aeronaves complementares de alta tecnologia, ou seja, as duplas F-15 Eagle/F-16 Falcon na USAF e F-14 Tomcat/F-18 Hornet na Marinha embarcada.

PRINCIPAIS AVIÕES TÁTICOS DISPONÍVEIS POR FORÇA ARMADA (1994)
MODELOUSAFANGAFRUSAF-SNAVYNRNAVY-SMC
F-4 PHANTOM17718860350
RF-4 PHANTOM1807
F-15 EAGLE58854250
F-16 FALCON8351886036726 (*)
F-111219
EF-11136
F-117 STEALTH52
A-7 CORSAIR2709621048
A-10 THUNDERBOLT3797287100
F/A-18 HOCNET2462411848
A-6 INTRUDER2761012520
A-4 SKYHAWK426 (*)9
AV-8 HARRIER60
EA-6 PROWLER64126
F-14 TOMCAT39848210
S-3 VIKING140

Legenda:

USAFUS AIR FORCE (FORÇA AÉREA AMERICANA)
ANGAIR NATIONAL GUARD (GUARDA AÉREA NACIONAL)
AFRAIR FORCE RESERVE (RESERVA DA FORÇA AÉREA)
USAF-SUS AIR FORCE STORAGE 

(ESTOQUE DE SUSTENTAÇÃO DA FORÇA AÉREA)

NAVYMARINHA
NRNAVY RESERVE (RESERVA NAVAL)
NAVY-USNAVY STORAGE 

(ESTOQUES DE SUSTENTAÇÃO DA MARINHA)

MCMARINER CORPS (CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS)

O sucesso do emprego desta nova concepção de força aérea foi registrado, pela primeira vez, em 1972, durante a segunda ofensiva norte-vietnamita contra o Vietnã do Sul, e provou o acerto da USAF no emprego deste novo conceito, que veio a ser confirmado, em sua plenitude, com o extraordinário desempenho das forças armadas dos EUA na Guerra do Golfo em 1991.

Uma nova dimensão concepcional de Superioridade Aérea parece, assim, efetivamente consolidada na mentalidade militar estadunidense e, para os próximos anos está prevista uma nova força aérea provida de um número ainda menor de aeronaves de alta performance com o intuito de assegurar a continuada primazia dos Estados Unidos como maior potência militar do planeta.

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