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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Jatos Mirage da Venezuela

 




A Força Aérea Venezuelana adquiriu e operou 16 aeronaves Mirage da fabricante francesa Dassault. Saiba um pouco mais sobre a passagem dos deltas franceses pela Venezuela.

O começo da década de 70, já se fazia evidente a obsolescência das aviões de caça da Força Aérea Venezuelana (FAV) na época. A FAV dispunha de 79 aeronaves Fiat/North American F-86K Sabre Dog, ex-Luftwaffe, operados pelo Esquadrões Aéreos de Caça 34,35 e 36 do Grupo Aéreo de Caça nº12 “Grifos”, baseados em Barquisimeto. Estes aviões eram já bastante antiquados em relação aos Hawker Hunter e Mirage operados pelas forças aéreas da região. Devido a isso, os círculos da FAV já se pensava na substituição dessas aeronaves.

Um F-86K Sabre Dog: Em 1965, a FAV adquiriu 79 dessas aeronaves. Cinco anos depois, teve que os substituir.

O governo venezuelano estudou a aquisição de caças-bombardeiros e acabou escolhendo os caças Mirage, construídos pela AMD/BA ( Avions Marcel Dassault/Breguet Aviation). Em 1971, se encomendou á AMD/BA a construção de dez Mirage IIIEV, quatro Mirage 5V e dois Mirage IIIDV. Pela resolução ministerial No.A-00227de 26/07/1973, foi criado o Grupo Aéreo de Caça nº11, baseado na Base Aérea de El Libertador, em Palo Negro. Este grupo era organizado em três esquadrões: Esquadrão de Caça nº33 “Halcónes”, operando os Mirage IIIEV/DV, em missão de interceptação; Esquadrão de Caça nº34 “Caciques”, operando os Mirage 5V e Mirage IIIEV, especializado em missões de ataque; e o Esquadrão de Manutenção nº 117, com a missão de manter as aeronaves do grupo.

O simulador de Mirage operado pela FAV: Muitos pilotos da América do Sul treinaram nesse simulador.

Dentro do grupo, também era baseada a Escola de Ar e Terra do Mirage, responsável pela instrução de pessoal na operação do sistema de armas Mirage. Esta escola chegou a ter um simulador de vôo, onde treinavam não somente pilotos venezuelanos, como treinaram pilotos do Brasil, Peru e Argentina.

A FAV operava as seguintes variantes do Mirage:

Dassault Mirage IIEV/DV: Está versão é especializada para missões de interceptação. Esta aeronave era propulsada por um motor SNECMA Atar 9C, de 9.436lbf (4.280kg/f) de empuxo seco. Este motor é equipado com um pós queimador que dá a capacidade em empuxo de 13.668lbf (6.199kg/f), permitindo assim, alcançar a velocidade máxima de Mach 2.2 (2.692km/h). Era equipado com um radar de controle de fogo Thomson-CSF Cyrano IIB, que permitia realizar missões de interceptação all-weather (todo tempo). As unidades venezuelanas não contavam com o radar de navegação Thomson-CSF, instalado em uma carenagem abaixo do nariz da aeronave. Outra característica dos Mirages venezuelanos era seu míssil ar-ar. Se utilizava um AIM-9B Sidewinder norte-americano ao invés do R.550 Magic I. Os Mirages IIIEV eram monoplace (um lugar) enquanto o Mirage IIIDV são biplace (dois lugares), estes últimos, não tem radar, servindo como avião de treinamento e ataque.

Dassault Mirage 5V: Esta versão do Mirage é especializada em missões de ataque. É equipada com as mesmas turbinas, armas, assento ejetor e estrutura geral do Mirage III, a diferença está na maior capacidade de portar armas, eliminação do radar e simplificação da eletrônica, tendo o jato um bico mais longo e fino.

Modernização

Um Mirage IIIDV venezuelano voa junto a um Mirage IIIEA argentino.

Após uma década de uso, o sistema de armas Mirage já sentia o desgaste e obsolescência de seus sistemas. Os problemas principais era a falta de eletrônica dos Mirage 5, que não podia efetuar suas missões com total eficiência e os problemas nos motores SNECMA Atar 9C, na qual estava cada vez mais caro e problemático para manter.

Em 1979, começaram os estudos para a modernização das aeronaves. O projeto se viu adiado entre junho de 1980 e julho de 1982, devido aos estudos da FAV para a compra de uma nova aeronave de combate. Esses estudos levaram a compra dos caças F-16A/B Block 15 no ano de 1982. Nesse mesmo ano, os estudos para a modernização do sistema de armas Mirage foi retomado, com a premissa de reforçar a defesa aérea venezuelana e e não depender de um só provedor de aeronaves de combate.

A compra dos F-16 venezuelanos adiou a modernização do sistema de armas Mirage (Foto: f-16.net)

Entre março e abril de 1983 se aprovou o primeiro projeto de contrato de modernização da frota, porém, em dezembro daquele ano, o projeto foi postergado para o próximo governo. Em 1984, um novo contrato foi aprovado pelo governo e em 1985, foram acertados os acordos finais para a modernização, porém a queda nos preços do petróleo aquele ano acabou encurtando o orçamento governamental aquele ano, cancelando assim, todos os contratos existentes. Em agosto de 1987, com a Crise da Corveta Caldas, o governo venezuelano aprovou o contrato de modernização, tendo ele sido assinado com a AMD/BA em junho de 1989.

ARC Caldas (FM-52): A crise provocada por esta fragata foi crucial para a modernização do sistema de armas Mirage. (Foto: Ejercito de Colombia)

Das aeronaves originais, foram enviadas seis Mirage IIIEV, dois Mirage IIIDV e três Mirage 5V para a sede da AMD/BA, em Toulouse, França. Estas aeronaves se juntariam a outros cinco Mirage 5M, ex-Zaïre, que foram adquiridos pela FAV. Todas estas aeronaves seriam modernizadas para o padrão Mirage 50V. Todos os sistemas foram adquiridos por US$ 300 milhões que também incluía um Dassault Falcon 20DC como plataforma de instrução, porém essa compra foi cancelada, devido a problemas de financeiros.

Um Mirage 50EV em Tolouse, sem o esquema de pintura da FAV.

O Mirage 50V era uma modernização completa da aeronave, baseada em Mirages já existentes, que contava com eletrônica e peças similares as do Mirage F1 e do Mirage 2000. A modificação mais significativa era seu motor: O velho Atar 9C foi trocado por um Atar 9K50. Esta planta propulsora produz 11.023lbf (5.000kg/f) de empuxo seco, contando com pós-combustor, que produz 15.873lbf (7.200kg/f) de empuxo.

A aeronave ganhou ‘canards’ fixos uma sonda de reabastecimento em vôo tipo ‘probe’, assentos ejetores Martin-Baker Mk.10, com capacidade zero-zero, um radar de controle de fogo Thomson-CSF Cyrano IVM, com capacidade de operar misseis Super 530D e AM.39 Exocet, além de melhores capacidades ar-terra), HUD, INS (Sistema de Navegação Inercial), computador de voo, sistemas de RWR (Alerta Radar), EW (Guerra Eletrônica), IFF (Sistema de Identificação Amigo-Inimigo), lançador de chaff/flare e capacidade HOTAS (Sistema de Controle com Mãos em Manche e Manetes)

A modernização do sistema de armas Mirage deu capacidade dessas aeronaves operarem em conjunto com os F-16 adquiridos em 1982. (foto: Wikipedia Commons)

Com a modernização, se incorporou um grande numero de armas para os Mirage 50V. Entre elas se encontram mísseis antinavio Aérospatiale AM.39 Exocet, mísseis ar-ar infravermelho Matra R.550 Magic II, bombas anti pista Matra Durandal e Brandt BAP-100, bombas de queda livre SAMP, de 400kg e bombas anti blindagem Brandt BAT-120. Estas armas se uniram as bombas de queda livre Mk.82, de 227kg e os lança-foguetes Matra JL-100R, que lança foguetes SNEB, de 68mm.

Um dado curioso dessa modernização foi a transformação de um Mirage 5V em uma aeronave biplace, devido a perda de uma unidade biplace em um acidente em 1990 e a necessidade de cobrir o requerimento de três aeronaves do tipo modernizadas. No mesmo ano, um Mirage IIIEV foi perdido em um acidente, assim diminuindo o numero de aeronaves para modernização de 18 para 16. A primeira aeronave foi entregue para a Venezuela em 30 de novembro de 1990 e a última aeronave entregue para o país aconteceu em 1992.

Um par de Mirage 50EV, um deles carrega um míssil antinavio AM.39 Exocet no pylon ventral.

Com a modernização dessas aeronaves, se reestruturou a organização do Grupo de Caça Nº11, trasladando todos os pilotos e equipamentos para o Esquadrão de Caça Nº34, que se especializou em operações de ataque e antinavio. O Esquadrão de Caça Nº33 se tornou uma unidade de conversão operacional do modelo.

Ao longo de sua carreira na FAV, o sistema de armas Mirage participaram de uma variedade de exercícios em Venezuela e no exterior. Um comum era a Operação Dardo, onde todas as aeronaves de combate da FAV são enviados para a Ilha de Margarita, para praticar tiro com canhão no Mar do Caribe, utilizando um alvo aéreo chamado ‘Dardo’, rebocado por um caça VF-5. Nos exercícios no exterior, se destacam o intercambio coma Guarda Aérea Nacional de Porto Rico, os exercícios UNITAS, com a US Navy, a Operação Miranda 98′, onde houve participação da Armée de L’Air com quatro Mirage 2000N, do EC 1/3, em exercícios onde participaram caças F-16 e VF-5 da FAV e os exercícios Cruzex 2004 e 2006.

No ano de 2003, o Mirage 50DV ‘FAV 4212’ recebeu uma pintura especial de 30 anos da chegada desse sistema de armas no país.

No começo de 2008, devido aos altos custos de manutenção e desgaste das aeronaves, os três primeiros Mirage 50V foram retirados de serviço e canibalizados para manter o restante da frota. Em 2009, decidiu-se por retirar de serviço da FAV o sistema de armas Mirage, o que ocorreu em julho daquele ano, após 35 anos de serviço.

Mirage 50EV na Força Aérea Equatoriana: Seis aeronaves ex-FAV foram transferidas para a FAE em 2009. (foto: FAV-Club)

Os aviões foram armazenados nas instalações do Grupo de Caça Nº11, na Base Aérea de El Libertador. Dois meses depois, o governo venezuelano ofereceu as aeronaves a titulo de doação. Na época, a Força Aérea Equatoriana (FAE) sofria uma baixa na operatividade de seus Mirage F.1 e Kfir CE e aceitou a doação no setembro de 2009, após as aeronaves serem inspecionadas por técnicos da FAE. No total, seis aeronaves (três EV e três DV), peças de reposição, equipamentos de terra e armamento foram transferidos para o Equador. Os três primeiros Mirage chegaram a Base Aérea de Taura em 29 de outubro de 2009. No dia 15 dezembro de 2009, outras trçes aeronaves chegaram a Taura, porém, a autorização de transferência da França só chegou no di 27 de março de 2010, quando as aeronaves foram repintadas e entraram oficialmente em serviço pela FAE.

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