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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Lockheed F-80C Shooting Star

 


História e Desenvolvimento.

A Lockheed Aircraft Corporation, empresa que conquistaria grande notoriedade no mercado de aeronaves civis na década de 1930, teve sua gênese em 1912, quando Allan Lockheed e seu irmão Malcolm Lockheed, fundaram uma pequena empresa de construção aeronáutica chamada Lockheed Aircraft Manufacturing Company, que se especializaria na produção de pequenas aeronaves turísticas no estado da Califórnia. Apesar da tendência no crescimento das vendas, este mercado seria duramente atingido pelo final da Primeira Guerra Mundial, quando uma grande oferta de aeronaves militares usadas, afetaria profundamente as vendas de aeronaves novas, levando assim ao encerramento das atividades desta promissora empresa. O recomeço aconteceria a partir de 1926, momento em que Allan Lockheed se uniria aos empresários John Northrop, Ken Kenneth Kay e Fred Keeler, que angariaram fundos para formar a Lockheed Aircraft Company. Esta nova organização faria uso da mesma tecnologia originalmente desenvolvida para o Modelo S-1 para projetar o Modelo Vega. Em março de 1928, a empresa mudou-se para Burbank, na Califórnia, e no final do ano reportaria vendas superiores a um milhão de dólares, chegando a produzir cinco aeronaves por semana. Em julho de 1929, o acionista majoritário Fred Keeler, vendeu quase 90% do capital da empresa para a Detroit Aircraft Corporation, recebendo assim recursos para a melhoria de seus projetos, ferramental e linhas de produção. Este movimento geraria grandes sucessos comerciais como Lockheed Model 10 Electra e seu sucessor o Lockheed Model 14 Super Electra, desenvolvidos pelo líder de projetos Don Palmer. A entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial em dezembro de 1941, levaria a Lockheed Aircraft Corporation, passar a ter um papel protagonista como fornecedor estratégico das forças armadas norte-americanas, com a empresa passando a desenvolver aeronaves destinadas a missões de patrulha e guerra antissubmarino como os Lockheed A-28 Hudson, PV-1 Ventura e PV-2 Harpoon. No entanto, sua aeronave combate de maior sucesso durante a Segunda Guerra Mundial, seria o lendário caça bimotor Lockheed P-38 Lighting.

Durante o transcorrer do conflito, os norte-americanos cientes dos avanços alemães e britânicos na tecnologia de propulsão a jato, decidiram empenhar esforços no desenvolvimento da primeira aeronave militar propulsionada por motores a reação. Apesar da Bell Aircraft Co. já ter iniciado os esforços no projeto que culminariam posteriormente no XP-59 Airacomet, o comando da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) definiu por transferir este projeto para outra empresa, principalmente pelo fato da primeira empresa já estar comprometida com grandes contratos de fornecimento de aeronaves convencionais. Assim em 23 junho de 1943, seria celebrado junto a Lockheed Aircraft Corporation, o contrato para o desenvolvimento projeto do designado L-140 que teria como líder nos trabalhos o brilhante engenheiro aeronáutico Clarence L. "Kelly" Johnson, é curioso citar que este contrato exigia um protótipo totalmente funcional no prazo de 180 dias. Em 09 de novembro de 1943, seria concluído o primeiro protótipo, designado como XP-80 Shooting Star, sendo levado a testes secretamente na base aérea de Muroc Dry Lake, localizada no deserto Mojave. Porém, diversas anomalias e falhas técnicas no motor, paralisaram o programa avaliações e ensaios em voo, sendo retomado este somente no dia 28 do mesmo mês com o recebimento de um novo motor inglês Haviiland H-1B Goblin. O primeiro voo ocorreria em 08 de janeiro de 1944 sendo conduzido pelo piloto de testes Tendo Milo Burcham, tendo a aeronave atingindo a velocidade de 806 km/h. Ocorre, porém, que incertezas quanto ao fluxo de fornecimento dos motores ingleses em virtude da guerra e da produção dos jatos Gloster MKI Meteor, levara a Lockheed Aircraft Co. a repensar o projeto sugerindo a adoção do motor americano. O propulsor a jato escolhido seria o produzido pela General Eletric, o modelo Whittle I-40. Como este motor apresentava um tamanho maior quando comparado com o modelo original inglês, foi necessário redesenhar a fuselagem da aeronave, nascendo assim a versão XP-80A com quatro aeronaves pré-série sendo encomendadas. O processo de ensaios em voo com esta nova aeronave recomeçaria em  junho de 1944, sendo seguido por um exaustivo programa de testes. Vários incidentes a acidentes permeariam este processo, sendo perdidos oito aeronaves até julho de 1945, vitimando em um deles, o Major Richard I. Bong, o maior "Ás" norte-americano da Segunda Guerra Mundial.
Para a produção em série do modelo, foi decidido novamente alterar o motor a reação, optando agora pelo turbo jato norte-americano General Electric - Allison J33, com as definições técnicas estabelecidas o programa entraria no espectro de prioridades, sendo negociadas a aquisição de 4.930 aeronaves para a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF). No entanto a capitulação do Japão em agosto de 1945, levaria o governo-norte-americano a rever todos seus planos de reequipamento militar, resultando em drásticos corte orçamentários, com o programa do caça a jato sendo diretamente afetado, resultando apenas seiscentas e setenta e uma aeronaves a serem encomendadas. As primeiras células seriam recebidas ainda no mesmo passando a dota pelo menos oito esquadrões de caça e interceptação, infelizmente novos problemas de ordem técnica e profissional, assolariam a vida operacional do Lockheed P-80A, e nada menos do que sessenta e um destes caças seriam perdidos até setembro de 1946. Muitos acidentes seriam atribuídos a deficiente operação da aeronave, mas outros fatores eram de ordem material, principalmente no que dizia a respeito às primeiras versões do motor General Electric - Allison J33. A busca para sanar esta deficiências resultariam na versão designada como P-80B, que passava a incorporar várias melhorias, entre elas novos e mais confiáveis assentos ejetáveis e adoção do sistema de injeção de água e metanol no motor turbo jato. Um contrato seria celebrado prevendo a aquisição de duzentas e quarenta novas aeronaves, com estas sendo entregues entre os anos de 1947 e 1948, passando a substituir os primeiros lotes da versão anterior. Prosseguindo em seu ciclo evolucionário, alçaria voo em 01 de marco de 1948, o primeiro Lockheed P-80C, modelo que era dotado com uma nova versão do motor, agora o Allison J-33-23 com 4.600 kgf de empuxo, que lhe permitia atingir a velocidade de 928 km/h. Esta nova versão receberia uma estrutura alar reforçada, com a provisão para receber quatro cabides subalares com capacidade de carga útil de até 1.080 kg. O P-80C pode ser considerado o primeiro caça bombardeiro a jato norte-americano, sendo produzidos 799 células, com esta frota sendo aumentada para mais de 1.200 aeronaves mediante atualização dos modelos P-80A e P-80B ainda em serviço.

O batismo de fogo do agora renomeado Lockheed F-80C Shooting Star, ocorreu durante a Guerra da Coréia (1950-1953), mais precisamente no mês de setembro de 1950, quando aeronaves do 8º Grupo de Caças Bombardeiros (Fighter-Bomber Group), foram empregadas em missões e ataque a solo.  Já em missões de combate ar ar os Lockheed F-80C foram responsáveis por várias vitórias aéreas contra aeronaves convencionais com motores a pistão, como os caças Yakovlev Yak-9 e Ilyushin Il -10 pertencentes a Força Aérea e Antiaérea do Exército Popular da Coreia (FAEPC). Em 08 de novembro do mesmo, seria registrada a primeira reivindicação americana por uma vitória aérea em um combate entre aeronaves de propulsão a reação, quando o tenente Russell J. Brown, pilotando um Lockheed F-80C, reportou o abate de um caça Mikoyan-Gurevich MiG-15 (apesar dos soviéticos posteriormente afirmarem que a aeronave sobreviveu ao ataque).  Embora novos registros de abates fossem confirmados, o aumento da intensidade dos combates demonstraria a nítida inferioridade da aeronave norte-americana, frente aos caças soviéticos, com grande parte desta desvantagem sendo baseada na velocidade inferior do Lockheed F-80C Shooting.  Este fato levaria a aceleração da introdução do novo caça, o North American F-86 Sabre, no papel de superioridade aérea, com o desempenho deste se equivalendo ao Mikoyan-Gurevich MiG-15. Restaria então aos caças P-80C o emprego temporário em missões de ataque a solo e apoio aproximado, sendo neste caso escoltados pelos caças F-86 Sabres, como este binômio perdurando até o recebimento de mais aeronaves Sabre, quando enfim os pioneiros F-80C Shooting Star foram retirados do conflito, sendo transferidos as unidades da Guarda Aérea Nacional (National Air Guard) em seu país de origem. Apesar destes revezes, a versão de foto reconhecimento Lockheed RF-80, demonstraria grande aptidão para este tipo de missão, com dezenas de células se mantendo ativas na Força Aérea Americana (USAF) até o final deste conflito.

O término da Guerra da Coréia, permitiria a desmobilização de grande parte da frota dos novos caças North American F-86 Sabre, com grande parte destas células sendo transferidas para a Guarda Aérea Nacional (National Air Guard), levando assim a desativação dos últimos Lockheed F-80C Shooting Star. Salientando ainda que as versões de reconhecimento aéreo fotográfico, RF-80A e RF-80C, se manteriam em serviço nas unidades de linha de frente da Força Aérea Americana (USAF) até fins de 1957. A precoce desativação dos caças bombardeiros da Lockheed Aircraft Co., geraria um grande lote de aeronaves em bom estado de conservação, levando então o Departamento de Defesa Americano (Department of Defense - DoD), a definir este modelo como vetor padrão escolhido para prover a substituição dos antigos caças da Republic P-47 Thunderbolt, que então se encontravam em uso em vários países, como México, Chile, Brasil, Equador e Peru. Este processo seria então realizado sobre os vantajosos termos previstos no Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP), como os Lockheed F-80C Shooting Star, se mantendo em operação nestes países até pelo menos até a primeira metade da década de 1970.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da segunda metade da década de 1950, a Força Aérea Brasileira estava equipada em suas unidades de primeira linha com os caças ingleses Gloster Meteor nas versões monoplace F-8 e biplace TF-7. Neste contexto a formação de pilotos de caça, estava a cargo do 2º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão “Joker” (2º/5º GAv.), que concentrava as últimas células operacionais dos veteranos caças bombardeiro Republic F-47D Thunderbolt , vetores estes empregados extensivamente neste processo de treinamento. Apesar de atender as demandas de formação de pilotos de caça, em dezembro de 1957 o Ministério da Aeronáutica (MAer), determinaria a prematura desativação de toda a frota de caças da Republic F-47D Thunderbolt brasileiros. Esta decisão seria motivada pela ocorrência de inúmeros problemas de ordem técnica que assolavam estas aeronaves, como a natural fadiga estrutural das células e problemas em seu sistema de escape de gases motor, com este cenário sendo agravado principalmente pela dificuldade na obtenção no mercado internacional de peças de reposição (devido a descontinuidade de produção da aeronave em 1945). Este fato criaria uma grave lacuna no processo de formação de pilotos de caça, levando a adoção de uma solução paliativa baseada na adoção de algumas células da versão de treinamento armado do North American AT-6D e AT-6G Texan. Em operação, concluiu-se o que já era esperado, pois esta aeronave não era minimamente adequada para o emprego nas tarefas de formação dos novos caçadores da Força Aérea Brasileira. Com o objetivo de sanar esta deficiência o Ministério da Aeronáutica (MAer), fazendo uso dos termos do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP), pleiteou junto ao governo norte-americano a cessão de aeronaves de aeronaves a jato usadas, a fim de proceder a substituição dos caça bombardeiros Republic F-47D Thunderbolt.

Neste contexto, o pleito do governo brasileiro seria prontamente atendido através da liberação de trinta e tres células do modelo Lockheed F-80C Shooting Star e quatro células de sua versão biplace, o Lockheed T-33A Thunderbird.  Deste pacote, as primeiras aeronaves seriam recebidas em 10 de dezembro de 1956, pertencendo a versão T-33A-1-LO, e se destinavam orginalmente a conversão dos pilotos para os caças F-80C Shooting Star. Estes jatos biplaces exerceriam este importante papel junto ao 2º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão “Joker” (2º/5º GAv.), até o ano de 1959, quando foram recebidas mais quatro aeronaves, que foram transladadas ao Brasil no início de 1960 por pilotos da Força Aérea Americana (USAF), sendo complementas por mais duas aeronaves recebidas em 1962. Já os  primeiros F-80C Shotting Star seriam empregados exclusivamente pelo 1º/4º Grupo de Aviação - Esquadrão Pacau, sediado na Base Aérea de Fortaleza, na missão de conversão operacional de caça. As células recebidas pertenciam a última versão de produção da aeronave, e estavam armados com seis metralhadoras Browning calibre .50 instaladas no nariz, com provisão para  duas bombas de 454 kg ou duas bombas de 227 kg e quatro bombas de fragmentação de 118 kg ou duas bombas de 300 kg e oito foguetes ou quatro bombas “Napalm”(asas). Esta incorporação renovaria o potencial ofensivo da Força Aérea Brasileira em missões de ataque a solo e apoio aéreo aproximado, infelizmente este status quo seria efêmero, pois em 1962 graves problemas estruturais afligiriam toda a frota de caças bombardeiros Gloster Meteor F-8, representando um grande golpe na capacidade ofensiva e defensiva do país, e neste contexto os F-80C Shooting Star ganhariam destaque nas operações de caça.
O planejamento da Força Aérea Brasileira, previa a distribuição exclusiva dos caças bombardeiros Lockheed F-80C Shooting Star, junto ao 1º/4º Grupo de Aviação - Esquadrão Pacau, substituindo imediatamente os North American AT-6D e AT-6G Texan e os derradeiros Republic F-47D Thunderbolt, na tarefa principal de formação de pilotos de caça. Porém antes mesmo dos Lockheed F-80C serem transladados ao Brasil, foi acertada a entrega de um lote complementar de aeronaves Lockheed T-33A, com o objetivo de formar o  núcleo de instrutores deste esquadrão , com este processo sendo realizado a partir de dezembro de 1956, sob a competente tutela de militares do 102º  Esquadrão de Treinamento Móvel (Mobile Training Detachament) da Força Aérea Americana (USAF). Assim em 13 de maio de 1958, quando os primeiros treze F-80C pilotados por oficiais norte-americanos, foram recebidos na Base Aérea de Fortaleza, já havia uma equipe brasileira pronta a operar este novo vetor. As demais dezesseis células seriam entregues durante os próximos três meses.  As aeronaves destinadas ao Brasil, eram todas oriundas das unidades de reserva da Guarda Aérea Nacional (National Air Guard) e se encontravam em relativo bom estado de conservação, apesar de alguma delas serem veteranas da Guerra da Coreia. Estas aeronaves manteriam a designação oficial, recebendo as matrículas de "FAB 4200 a 4229", e logo em conjunto com os Lockheed T-33A, deram início as atividades, para a realização do curso operacional de piloto de caca dos oficiais recém-formados na então Escola de Aeronáutica (EAer). A adição deste novo vetor, proporcionaria um enorme avanço no processo de formação, pois o emprego de um vetor a jato de alta performance, ao invés de uma aeronave a pistão, facilitava em muito a transição para as aeronaves de primeira linha.

Por ser um jato de primeira geração, as características de voo do Lockheed F-80C Shooting Star cobravam de seu piloto, o máximo de suas habilidades, para que fosse operado com eficiência. Da mesma forma, os trabalhos de manutenção preventivas e corretiva eram exigentes, principalmente em seu motor turbo jato General Eletric Allison J-33-23. Este cenário de operação delicada, era complementado por um índice de desgaste acelerado, resultando em baixas médias de disponibilidade diária da frota de aeronaves, o que passaria a gerar grande preocupação por parte do comando do Esquadrão Pacau. No ano de 1963 este índice atingiria uma média de apenas 31,7% de células existentes em condições plenas de voo, e para agravar esse quadro, seriam perdidos mais três Lockheed F-80C em acidentes fatais.  Isso levaria a negociação para a aquisição de mais células com o objetivo de repor estas perdas, se materializando no recebimento de quatro células em 7 de abril de 1960. Apesar de todas estas dificuldades operacionais observadas ao longa de seu tempo de serviço, a introdução desta aeronave resultaria em um grande benefício adicional, pois os oficiais da Força Aérea Americana (USAF), encarregados de ministrar o treinamento do F-80C, possuíam grande experiência de combate real, obtida durante a  Guerra da Coreia (1950-1953), com este valioso conhecimento sendo repassado aos futuros instrutores do  1º/4º Grupo de Aviação - Esquadrão Pacau, que por sua vez transmitiriam esta doutrina operacional para seus alunos.  Além de ser empregado na missão de conversão operacional de caça, estas aeronaves seriam empregadas com sucesso como vetores para a defesa área de toda a região nordeste do país.
Infelizmente problemas operacionais e técnicos continuariam a assolar esta frota de aeronaves da Força Aérea Brasileira, culminando na decisão do Ministério da Aeronáutica (MAer) pela desativação total do modelo em meados do ano de 1967, passando a ser substituídos por novos lotes de aeronaves Lockheed  AT-33A-20-LO, usadas oriundas também da reserva técnica norte-americana, que dariam sequência ao  processo de formação de pilotos de caça. Seria ainda decidido que uma das células, justamente o de matrícula mais antiga "FAB 4200", deveria ser mantida em condições de voo, a fim de ser empregada exclusivamente pelo comandante do Esquadrão Pacau. Esta aeronave foi revisada e preparada com um esquema especial de pintura, e operou até o ano de 1973, fazendo uso de um amplo estoque de peças reposição para sua manutenção. Após a retirada de serviço desta última célula, foi decidido que ela deveria ser incorporada ao acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL) no Rio de Janeiro, porém infelizmente esta aeronave sofrem um grave acidente com perda total durante o translado, com o F-80C "FAB 4201" sendo preservado em seu lugar.

O Lockheed TF-33A - O primeiro treinador avançado á jato do Bra

 Seguindo na esteira da nossa última matéria, a qual abordou o acidente aéreo que vitimou o Marechal Castello Branco, o GBN News apresenta um pouco sobre a aeronave que protagonizou a colisão nos idos de 1967, ainda apresentando informações que irão complementar o vídeo super interessante que foi feito pelo nosso parceiro, Cmte Robinson Farinazzo, que esteve no Aeroclube de Catanduva em São Paulo e nos brindou com uma matéria sobre o exemplar do Lockheed TF-33A “Shooting Star” que o pessoal de Catanduva realizou um belíssimo trabalho de restauração.

O Lockheed TF-33A “Shooting Star” surgiu no momento que o mundo experimentava a transição da era dos motores á pistão e radiais, para os modernos motores à jato. Fase que exibiu importantes e contínuos avanços no domínio dos céus.

Porém, não posso falar do TF-33A, sem falar um pouco da história do P-80, aeronave que foi produzida também pela Lockheed, a qual compartilha muito do seu projeto com o TF-33A, o qual surgiu como uma variante votada ao treinamento para os pilotos que operariam os novos “Jatos” da USAAF.

O programa XP-80 “Shooting Star”, surgiu ainda durante a Segunda Guerra Mundial, quando os americanos cientes dos avanços alemães no domínio da tecnologia de propulsão a jato, decidiram empenhar seus esforços no desenvolvimento da primeira aeronave de caça propelida á jato dos EUA.

No dia 23 junho de 1943 o governo dos EUA através da USAAF celebrava junto com a Lockheed a assinatura do contrato que dava inicio ao programa XP-80 Shooting Star. Apesar do empenho para conceber o caça e colocá-lo nos céus para garantir a supremacia aliada nos céus da Europa e Ásia, o primeiro voo do P-80 em sua versão final só ocorreria em junho de 1944. Mas sua produção ainda sofreu atrasos devido a alteração na escolha do motor a ser adotado pela versão de produção, quando a Lockheed resolveu equipar o P-80 com o turbo jato Allison J-33.

Turbo Jato Allison J-33 do T-33/TF-33
A USAAF tinha fechado um contrato para obter 4.930 unidades  do novo caça á jato. Porém, o fim da Segunda Guerra Mundial, com a capitulação do Japão em agosto de 1945, fez com que a encomenda sofresse uma revisão na quantidade a ser adquirida pelos EUA.

Após o fim da Segunda Guerra, os EUA mudaram a nomenclatura de suas aeronaves, onde o P-80 como demais caças passou a ter designação “P” substituída pelo “F”, e o “Shooting Star” passou a ser designado F-80.

Ao longo da conversão para as novas aeronaves a jato, fora registrado um alto índice de acidentes resultantes da inexperiência dos pilotos no domínio das novas aeronaves á jato, com isso surgiu a necessidade de se projetar uma aeronave específica para prover o adequado treinamento aos futuros pilotos dos F-80 “Shooting Star” e demais aeronaves a jato que entravam em serviço com os EUA e seus aliados ao redor do mundo.

Diante desta necessidade, a Lockheed tendo por base o F-80C incumbiu uma equipe de criar uma solução e desenvolver uma versão biplace voltada ao treinamento e conversão operacional. Para incluir um segundo cockpit, a célula do F-80 recebeu um aumento na fuselagem em 128 cm, com enxertos na fuselagem á frente e atrás das asas. Devido a necessidade de instalar um segundo assento, o tanque de combustível teve que ser reduzido, passando de 207 para apenas 95 galões, como solução para manter a autonomia da aeronave, optaram pela instalação de tanques nas pontas das asas. Devido ao aumento no peso, o armamento foi reduzido de seis para apenas duas metralhadoras .50.

O primeiro voo da nova aeronave aconteceu no dia 22 de março de 1948, e a campanha de ensaios em voo demonstrou que a nova variante manteve as mesmas qualidades de voo da versão monoplace. Com uma bem sucedida campanha de testes, a aeronave recebeu uma encomenda inicial de 20 unidades, sendo designada T-33.

O novo T-33A atingiu os objetivos, se mostrando uma aeronave muito flexível e capaz, o que rendeu a Lockheed novas encomendas, passando a ser adotada como treinador avançado padrão em uso no  Air Training Command  sediado Base da Força Aérea de Randolph, no Texas. A partir de 1949 o modelo passou a ser empregado em missões de treinamento avançado, também na US Navy, onde recebeu a designação de T-33B.

Muitos países operaram os T-33A, AT-33 e F-80C, e os mesmo ainda estão em operação em algumas forças ao redor do mundo, mesmo estando completamente obsoletos diante do moderno cenário de combate aéreo.

O T-33A no Brasil

A Força Aérea Brasileira, na década de 50 estava experimentando a transição para o jato, equipando suas unidades com caças ingleses Gloster Meteor F-8. Neste período, a FAB possuía um grande desafio para formação de seus pilotos de caça, onde a conversão ainda estava á cargo dos vetustos bombardeiros P-47 Thunderbolt, os quais apresentavam muitas limitações técnicas e operacionais. A disponibilidade das mesmas estava cada vez mais comprometida pela falta de peças de reposição, sendo um grande desafio conseguir peças, pois as linhas de produção das mesmas foram encerradas em 1945. Diante desses desafios, chegou o momento em qu não era mais possível manter os P-47 voando e cumprindo a conversão dos pilotos da FAB. Uma solução temporária foi o emprego de alguns T-6G Texan, porém, os mesmos não eram adequados a conversão para aeronaves a jato.

Diante da deficiência encontrada na formação dos aviadores de caça da FAB, o Ministério da Aeronáutica, através do programa de assistência militar entre o Brasil e os EUA, solicitou ao governo norte americano a disponibilização á Força Aérea Brasileira de aeronaves de combate á jato, com intuito de sanar a lacuna aberta pela retirada de serviço dos P-47 Thunderbolt. Em resposta ao pedido brasileiro os EUA liberaram 33 aeronaves F-80C “Shooting Star” e 4 aeronaves de treinamento T-33A “Thunderbird”, com as primeiras aeronaves T-33A chegando ao Brasil em 10 de dezembro de 1956, iniciando a preparação dos pilotos para chegada dos novos F-80C.

Os T-33A tiveram papel importante na FAB, onde desempenharam ao longo de anos a missão de formar os futuros pilotos de caça brasileiros.


A Força Aérea Brasileira ainda comprou mais quatro unidades do T-33A, depois com a necessidade de suprir a lacuna aberta pela indisponibilidade crescente dos Gloster Meteor, que apresentaram graves problemas estruturais que forçaram a sua retirada de operação, aliada a falta de recursos para aquisição de um moderno vetor, além da frota de F-80C já apresentar fadiga, a FAB se viu forçada a buscar uma solução criativa e de baixo custo. Em 1964 a FAB adquiriu 13 aeronaves AT-33, uma variante do T-33A que após passar por um processo de modernização, poderia desempenhar não apenas o papel de treinador avançado, como também realizar missões de ataque, contando com dois cabides subalares MA4 para o lançamento de bombas de até 227 kg e quatro cabides MA2A para o emprego de foguetes não guiados. Também foram atualizados os painéis de controle e sistemas de comunicação.

Os dois primeiros AT-33A, designados na FAB como TF-33, foram finalizados em agosto de 1965, após passar por uma inspeção técnica foram enviadas para a Base Aérea de Fortaleza. A última aeronave foi entregue em novembro de 1966, onde todas foram transladadas em vôo até o Brasil por pilotos da USAF.

Ainda em 1966, a FAB chegou a conclusão que não havia mais como manter os Gloster Meteor em operação. Ainda com recursos escassos, o Ministério da Aeronáutica optou pela compra de mais aeronaves AT-33 afim de suprir as necessidades da força. Todos os trâmites foram cumpridos e um acordo fora assinado para aquisição de 35 aeronaves T-33ª convertidas na variante “TF-33”. As 12 primeiras aeronaves desta nova compra foram enviadas ao Brasil em fevereiro de 1967. Ano em que um dos exemplares do TF-33 operados na Base Aérea de Fortaleza se envolveria no acidente que resutaria na morte do Marechal Castelo Branco, assunto abordado em nossa matéria “A colisão entre o TF-33A e o Piper Aztec: O que se sabe sobre a morte de Catello Branco?”. As 23 aeronaves restantes foram modernizadas, porém, não atenderam aos requisitos esperados pela FAB e tiveram de passar por um processo de reparos no Parque Aeronáutico de Recife.


O TF-33 era considerado um caça tampão, pois a Força Aérea Brasileira buscava adquirir uma nova aeronave que se encaixasse em suas necessidades e estivesse dentro do seu orçamento. Dentre as opções foram avaliados o A-4E Skyhawk, Sapecat Jaguar, o Fiat G-91 e o italiano Aermacchi MB-326G, sendo escolhida a aeronave italiana, a qual teve alguns exemplares fabricados sob licença pela Embraer.



A história do TF-33 na Força Aérea Brasileira não foi muito longa, tendo sido gradativamente substituídos pelos EMB-326 “Xavante” que em um curto prazo substituiria todos os TF-33 nas unidades de primeira linha até 1973. As últimas aeronaves permaneceram em operação com 1º/4º GAv até 1975, encerrando sua história de 19 anos em serviço no Brasil.

Hoje ainda podemos encontrar alguns exemplares do TF-33 perdidos pelo Brasil, encontrado não apenas no acervo do MUSAL, na Base Aérea do Campo dos Afonsos, mas por exemplo o exemplar objeto do vídeo produzido pelo Cmte Robinson Farinazzo, localizado em perfeito estado de conservação no Aeroclube de Catanduva, 



Especificações Técnicas 
Fabricante:
Lockheed Aircraft Corporation
Motor:
turbojato Allison J-33A-35 de 4.600 lb de empuxo
Desiginação Militar:
TF-33A
Comprimento:
11,49 m
Envergadura:
11,85 m
Altura:
3,45 m
Peso Vazio:
3.670 kg
Velocidade Máxima:
960 km/h
Alcance:
1.610 km
Armamento:
2 metralhadoras Browning .50” (nariz), 2 bombas de até 454 kg ou 2 bombas de até 454 kg e oito foguetes (asas)

Curiosidades: 

Os TF-33 da FAB mantiveram a fuselagem em alumínio polido, porém, afim de não prejudicar a visibilidade do piloto devido ao reflexo do sol na fuselagem, foi adotado no esquema da FAB pintura preto-fosco na seção do nariz da aeronave e na parte interna dos tanques nas pontas das asas.  Algo que foi mantido na restauração realizada pela equipe de Catanduva e pode-se notar no vídeo feito pelo Cmte Farinazzo.

Quando a FAB trocou algodão por aviões de caça

 Empregados entre 1953 e 1966, os ingleses Gloster Meteor F-8 e TF-7 foram os primeiros caças a jato operados pela FAB. Os 70 aviões, no entanto, foram adquiridos através de uma troca 15 mil toneladas de algodão.

Com os Gripens, o Brasil pagou R$ 5 bilhões por 36 aviões e um amplo pacote de transferência de tecnologia. No caso dos pioneiros jatos britânicos, a situação foi diferente: o pagamento foi com algodão. 

Conheça um pouco mais sobre o Gloster Meteor, o caça que a FAB comprou sem usar dinheiro. 

Origens

Em agosto de 1939, a Alemanha quebrou uma importante barreira tecnológica ao realizar o primeiro voo de uma aeronave a jato, com o Heinkel He-178. Pouco mais de um ano depois, os alemães foram os primeiros a voar o primeiro avião de caça a jato, o He-280, também da Heinkel. 

Foi só em 1941, já durante a Segunda Guerra Mundial, que os aliados fizeram o primeiro voo de uma aeronave movida a jato, com o Gloster E.28/39. Também chamado de Gloster Pioneer, o pequeno monomotor foi amplamente testado e experimentado, ao mesmo tempo em que o combate corria solto na Europa. 

Ao contrário dos modelos alemães que usavam turbojato do tipo axial, o modelo britânico usavam um motor tipo centrífuga, que incluía 10 câmaras de combustão de fluxo inverso, montadas ao redor de um motor axial. A Inglaterra apostou neste desenho e seguiu aprimorando e estudando sua aplicação em aeronaves de combate. A partir dos desenvolvimentos, a Gloster apresentou o projeto G.41 em resposta ao requerimento F.9/40 do Ministério do Ar britânico. Surgia então o Meteor, o primeiro caça a jato de sucesso dos Aliados. 

O Meteor chegou muito tarde para fazer qualquer diferença na Segunda Guerra Mundial, sendo usado apenas no final do conflito. Foto: RAF.
O Meteor chegou muito tarde para fazer qualquer diferença na Segunda Guerra Mundial, sendo usado apenas no final do conflito. Foto: RAF.

Apesar do advento e sua performance superior os demais caças em atividade, como o P-51 Mustang e Supermarine Spitfire, o Meteor não foi logo implantado em combate, uma vez que era uma aeronave completamente nova e sua operação era limitada. Além disso, os Aliados temiam que o o jato caísse nas mãos dos alemães.

Assim, em 1944, os Meteor F.1 entraram em serviço com Força Aérea Real (RAF) como vetores de defesa da Inglaterra. Seu primeiro uso em combate foi derrubando as bombas voadoras V-1; em paralelo, a RAF estudava o emprego do avião para aprimorar sua performance. 

Com o modelo mais maduro, os Aliados decidiram finalmente enviar seus novos aviões para a linha de frente. Em fevereiro de 1945, um destacamento do Esquadrão 616 da RAF foi enviado para a Bélgica, mas ficou ali apenas até o final de março. Acompanhando o rápido avanço das tropas aliadas, a unidade foi transferida para a Holanda, onde trocou de base mais duas vezes até a rendição final da Alemanha em maio daquele ano. 

Neste breve período, os Meteor não foram engajados em combate aéreo, participando apenas de missões de ataque ao solo e reconhecimento armado. Muito esperada pelos pilotos de caça britânicos, a peleja do Gloster Meteor contra o Messerschmitt Me-262 nunca aconteceu. 

Brasil

No final do conflito, a Força Aérea Brasileira tinha uma generosa frota de aviões de todos os tipos. Os principais caças eram o P-40 Warhawk e o lendário P-47 Thunderbolt. Este último foi o modelo utilizado na Itália pelos pilotos do 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa), o famoso Senta a Púa. 

O advento do jato no final da Segunda Guerra Mundial mudou completamente a aviação. De uma hora pra outra, aviões de caça a pistão se tornaram obsoletos, atropelados por modelos como o P-80 Shooting Star e F-86 Sabre dos Estados Unidos, o MiG-15 Fagot da União Soviética e o próprio Meteor. Este fato foi notado pelas autoridades brasileiras, que logo iniciaram a busca por um novo vetor. A imensa maioria dos aviões da FAB eram de origem norte-americana, então foi aos EUA que os militares foram primeiro.

Uma comitiva da então jovem FAB esteve no país para entender a operação dos aviões a jato, que envolvia uma cadeia logística diferenciada. Nem mesmo o querosene de aviação, que alimentava os motores a jato, existia no Brasil. A mudança seria enorme. 

Meteor F-8 preservado nas cores do 1º/1º Grupo de Aviação de Caça, o famoso Senta a Púa. Foto: Força Aérea Brasileira.
Meteor F-8 preservado nas cores do 1º/1º Grupo de Aviação de Caça, o famoso Senta a Púa. Foto: Força Aérea Brasileira.

Ao mesmo tempo, os P-47 e principalmente o P-40 já apresentavam sinais de desgaste. No caso do P-40, a perda de uma asa em voo resultou em um acidente fatal no Rio Grande do Sul. Esta ocorrência decretou um cessar completo de operações com o modelo na década de 1950.

Apesar da necessidade de jatos, o Brasil não tinha condições de adquirir os modelos norte-americanos. Além de serem muito caros, a Guerra da Coreia estava em andamento, atrasando as eventuais entregas.  

Algodão por Caças

Sem orçamento para os F-80, F-84 e F-86 dos EUA, o Brasil acabou achando uma solução criativa para adquirir novos caças.

Ainda se recuperando dos estregados da Segunda Guerra e enfrentado outras crises, a necessidade para alguns materiais era alta. Em uma aproximação entre governos, os dois países começaram a negociação que garantiria os primeiros caças a jato da FAB. 

Após longas conversas, em outubro de 1952 o contrato foi assinado. Em troca de 15 mil toneladas de algodão, a Inglaterra entregaria 70 caças Gloster Meteor ao Brasil, sendo dez unidades do modelo de treinamento TF-7, de dois assentos, e 60 da versão de combate F-8, com um assento. 

Em 1953, a FAB entrava na era a jato com o o Gloster Meteor. Setenta caças foram adquiridos por 15 mil toneladas de algodão, trocadas com a Inglaterra. Na imagem, um Meteor TF-7 do 1º Grupo de Caça (Senta a Púa) voa ao lado do Cristo Redentor.
Em 1953, a FAB entrava na era a jato com o o Gloster Meteor. Setenta caças foram adquiridos por 15 mil toneladas de algodão, trocadas com a Inglaterra. Na imagem, um Meteor TF-7 do 1º Grupo de Caça (Senta a Púa) voa ao lado do Cristo Redentor. Via Atomic Samba.

Enquanto o algodão era entregue, os primeiros dez pilotos brasileiros foram à Inglaterra conhecer a nova máquina. Dentre eles estavam quatro veteranos que combateram na Itália, os então majores Rui Moreira Lima, Hélio Langsch Keller, Josino Maia de Assis e Roberto Pessoa Ramos. 

Meteoros Brasileiros

Após o treinamento nas “Terras da Rainha”, os Gloster Meteor da FAB começaram a ser enviados a Brasil, desmontados a bordo de navios mercantes do Lloyd Brasileiro. Os “meteoros” eram desembarcados no Rio de Janeiro e montados na então Fábrica de Aviões do Galeão. Após a montagem, eram entregues ao Grupo de Caça e, mais tarde, ao Esquadrão Pampa da Base Aérea de Canoas (RS).

A chegada dos Meteor chamou enorme atenção do público. Até mesmo o então presidente Getúlio Vargas voou abordo de um TF-7, logo que os caças chegaram em 1953. Alimentados por um par de turbojatos Rolls-Royce Derwent, os F-8 e ultrapassavam os 900 Km/h, facilmente deixando para trás qualquer outro caça brasileiro da época. 

Um Gloster Meteor do Esquadrão Pampa de Canoas, exposto com seus armamentos.
Um Gloster Meteor do Esquadrão Pampa de Canoas, exposto com seus armamentos. Foto: Alipio Jaeger.

O armamento principal eram quatro canhões Hispano-Suiza de 20 mm, montados no nariz dos F-8. Os TF-7 de treinamento não eram armados. Similar aos Meteor F.8 empregados por Israel e Austrália, os F-8 brasileiros tinham reforço estrutural nas asas para carregar bombas der até 500 libras e foguetes HVAR, de 127 mm. Tanques de combustível também poderia ser carregados nas asas e fuselagem para estender o alcance dos caças. 

Embora inicialmente pensados para missões de interceptação de defesa aérea – como demonstrado pelos britânicos aos aviadores brasileiros durante o treinamento –, os F-8 acabaram sendo empregados em atividades de ataque ao solo, uma vez que na época o Brasil carecia de uma rede de radares de alerta antecipado. Isso seria implantado na década de 1970, junto com a chegada dos Dassault Mirage III. 

Um fim prematuro

O emprego dos Meteors nas funções de ataque ao solo também cobraria seu preço. Em 1961, menos de 10 anos após a chegada dos aviões, a Gloster já alertava para a possibilidade de problemas estruturais nos F-8 e TF-7. Após mais alertas, uma correspondência da Hawker Aviation (que absorveu a Gloster) seria o início do fim da carreira dos F-8 e TF-7 da FAB.

Conforme o site História da Força Aérea Brasileira, do professor Rudnei Dias da Cunha, o documento emitia diversas restrições às aeronaves, como cargas de apenas 5G positivos e -3G, mesmo em configuração limpa (sem bombas, tanques o foguetes nas asas). 

O FAB 4460 foi o último Meteor F-8 da FAB. Na imagem, o caça é visto em um rasante na Base Aérea de Santa Cruz.
O FAB 4460 foi o último Meteor F-8 da FAB. Na imagem, o caça é visto em um rasante na Base Aérea de Santa Cruz. Arquivo/José de Alvarenga.

De um dia para o outro, as “turbinas” de Canoas e Santa Cruz se calaram. Técnicos ingleses vieram ao Brasil para inspecionar os aviões, que em sua maior parte foram estruturalmente condenados. Em outubro de 1966, o Esquadrão Pampa encerrou as atividades com os Meteor.

As aeronaves que ainda poderiam operar foram transferidas ao Grupo de Caça, e a unidade gaúcha recebeu os AT-33 Shooting Star/Thunderbird dos Estados Unidos. Em 1968, o 1º GAvCa aposentaram os F-8 e em 1971 o ocorreu o último voo de um TF-7, que na época voava apenas como rebocador alvos para treinamento de tiro aéreo.

O último dos cometas

Em 1969, em meio à desativação dos Gloster Meteor, um evento inusitado ocorreu no Parque de Aeronáutica de São Paulo, atual (PAMA-SP). A unidade com sede no Campo de Marte estava passando por uma reorganização, quando os militares encontraram um fuselagem completa de um F-8, encaixotada. A fuselagem foi adquirida em 1953, juntamente os materiais de suprimento e apoio dos jatos ingleses. 

Ao mesmo tempo em que os F-8 e TF-7 davam baixa, os técnicos da FAB embarcaram na missão de montar o último Meteor do Brasil. Após oito meses, nascia o FAB 4499, mais tarde rematriculado como 4460. Ao contrário dos outros Meteor, que ostentavam cores metálicas com detalhes coloridos, o F-8 4460 recebeu, em 1972, uma pintura camuflada, similar à usada pelos então novos AT-26 Xavante. 



Gloster Meteor preservado em frente à entrada da Base Aérea de Canoas. Foto: Gabriel Centeno.

Como os TF-7, o “novo” 4460 passou a ser usado como rebocador de alvos no Grupo de Caça, cumprindo essa função de 1970 até 1974, quando realizou seu último voo no Dia da Aviação de Caça. Hoje, o último meteoro brasileiro repousa no Museu Aeroespacial, no Rio de Janeiro, ao lado de um TF-7. 

Mais de 50 anos depois da sua baixa definitiva, os “caças de algodão” da FAB ainda podem ser encontrados por aí, preservados em praças e museus. Em Canoas (RS), por exemplo, é possível encontrar dois F-8, em frente à Base Aérea e na famosa Praça do Avião.