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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

FAB JÁ EXAMINA COM O MINISTÉRIO DA DEFESA TRANSFERIR, NA DÉCADA DE 2020, A AVIAÇÃO DE PATRULHA MARÍTIMA PARA A MARINHA




O Comando da Aeronáutica não pretende mais possuir Aviação de Patrulha Marítima após a desativação dos nove quadrimotores P-3AM Orion (foto abaixo) adquiridos aos estoques americanos e modernizados na Espanha no início da década passada.
Neste sentido, o Ministério da Defesa e oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) vêm examinando com a Marinha do Brasil (MB) a possibilidade de, na metade final da década de 2020, a Força Aeronaval assumir a operação de aviões de patrulha baseados em terra, sem a necessidade de essas aeronaves serem orgânicas de meios navais – para o quê haveria, inclusive, a necessidade de mudança na legislação vigente.
As informações foram passadas à coluna INSIDER por uma fonte militar que, de sua posição no âmbito da Defesa, acompanha as sondagens e reações que vêm acontecendo sobre o assunto.
O controle do patrulhamento aéreo sobre o mar é um sonho antigo de muitos chefes navais brasileiros, e, do ponto de vista da FAB, se encaixa como uma luva na série de transformações administrativas e operacionais que a corporação vem processando.
Nesse contexto, ela representaria para a Aeronáutica uma importante desoneração de recursos, meios materiais e recursos humanos, permitindo à Força concentrar recursos de investimento em três programas: implantação das unidades de caça dotadas do jato Gripen E, recebimento dos cargueiros Embraer KC-390 e renovação da frota de aeronaves de treinamento (possivelmente com um jato que sirva à Instrução Básica e à Instrução Avançada).
O problema é que uma transferência de responsabilidades de tal envergadura não pode (e não deve) ser feita de forma abrupta – sem alguns anos de preparação –, e nem legando à MB as aeronaves que hoje operam sobre o litoral e em perímetros marítimos bem mais afastados da costa com a marca da estrela de pontas verde-amarelas da Força Aérea Brasileira.
Fissuras – Os Orions e os EMB-111, na FAB conhecidos como P-95 “Bandeirulhas” (versão de vigilância naval do conhecido bimotor Bandeirante), em nada entusiasmam o Comando da Marinha.
Imagem de divulgação da FAB de um “Bandeirulha”



Em 2014, ano em que o último P-3AM entrou em serviço (eles se tornaram operacionais no Brasil em 2010), diferentes serviços da Força Naval já acompanhavam as informações (aquela época ainda classificadas), acerca de desgaste nas asas dos bimotores – fissuras – e de corrosão em outras partes dessas células, fabricadas em meados da década de 1960…
De resto, é preciso lembrar que, quando se habilitou a fazer a remodelação e modernização dos Orions, a empresa americana Lockheed Martin alertou sobre a necessidade da troca das asas de alguns aparelhos – o que não foi autorizado por falta de recursos.
A Marinha quer sim, controlar a Aviação de Patrulha Marítima, mas dentro de um outro cenário tecnológico e financeiro, em que esteja apta a voar modernas aeronaves de vigilância naval e ataque a embarcações (de superfície e submarinas).
Prazo – As alternativas existentes hoje que poderiam, em tese, caber no bolso da Força Naval, não passam de meras (mas caprichadas) adaptações – casos do Airbus C-295 MPA Persuader (preço unitário em torno dos 42 milhões de dólares), e do novo ATR-42MP Surveyor (valor unitário de 37 milhões de dólares).
Acima um Persuader da Marinha chilena; abaixo o interior de um ATR Surveyor italiano



O quadrimotor de patrulhamento marítimo e guerra antissubmarina SC-130J Sea Herc (preço unitário de 68,12 milhões de dólares) ainda consta do portfolio da Lockheed Martin, mas depois que ele foi preterido na concorrência aberta pela Real Força Aérea (RAF na sigla em inglês), ano passado, seu marketing no mercado quase desapareceu.
Os brigadeiros estimam que seus quadrimotores P-3 ainda possam sobrevoar as águas jurisdicionais brasileiras por uns bons dez anos, e, nesse prazo, quem promete novidades nos bastidores da FAB é a Embraer, por meio do lançamento de uma versão de patrulha marítima e guerra naval do jato E-190E2.
O que o lobby da Embraer assopra no ouvidos dos altos oficiais da Aeronáutica é a maravilha de uma aeronave com vantagens em raio de ação, espaço interno para receber a parafernália eletrônica de guerra no mar (sensores e armas) e custo operacional aceitável.
Mas isso ainda é, rigorosa e respeitosamente, o ovo dentro da galinha.
E as promessas da Embraer no caso da polêmica modernização dos caças Skyhawk operados pelo Esquadrão Falcão, da Força Aeronaval, vacinaram os almirantes sobre as promessas da companhia brasileira.
A ideia, contudo, é interessante, porque se afigura como a opção mais próxima do P-8 Poseidon, o Boeing 737 de guerra naval da US Navy que só é vendido a parceiros de primeira linha do governo dos Estados Unidos – tanto por seu valor tecnológico quanto por seu preço unitário, que começa em 150 milhões de dólares.
Bases – As conversas entre representantes do Ministério da Defesa, da FAB e da MB sobre a realocação da Aviação de Patrulha Marítima na Força Aeronaval só exploraram, por enquanto, uns poucos detalhes – como a forma de transmitir a expertise dos pilotos da Aeronáutica para os seus colegas da Marinha – mas, imaginando-se a necessidade de cobertura do extenso litoral brasileiro, parece óbvio que a Aviação da Marinha precisará administrar ao menos de três a quatro bases: uma no sul do país, duas no Sudeste e uma na área da futura 2ª Esquadra.

Nesse momento, os P-3AM da Força Aérea Brasileira ainda são considerados bastente operacionais e compatíveis com os rigores dos exercícios antissubmarinos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Mas daqui a dez anos eles serão vistos como um modelo que marcou época na história da Aviação e precisa ser recolhido a um local onde a memória da sua folha de serviços possa ser preservada.

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