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sexta-feira, 30 de abril de 2021

Por que a maioria dos aviões é pintada de branco?

23/02/2021 às 15:49

Você já reparou que as pinturas dos aviões da Gol, Latam e Azul têm algo em comum? Todas elas têm o uso predominante da cor branca. E isso não é por acaso, nem por achar a cor bonita. A maioria dos aviões é pintada de branco não só no Brasil, mas no mundo todo! Conheça os motivos pelos quais o branco é tão utilizado na pintura das aeronaves:

A pintura das três grandes do Brasil segue o mesmo padrão, e não houve mudança do esquema quando a Tam virou Latam

O esquema de cores “Eurowhite”

O eurowhite é o esquema de cores onde a maior parte da fuselagem do avião é pintada de branco, com as outras cores relegadas para a cauda do avião ou em detalhes como ponta das asas e motores.

Ele se tornou comum nos anos 70, motivado pela elevação dos custos das companhias aéreas com a alta do petróleo. Buscando alternativas para economizar, elas passaram a adotar o padrão que custa menos para manter, além de ter outras vantagens operacionais. A Air France foi uma das primeiras companhias a adotá-lo, em 1976.

Avião da Air France com o esquema Eurowhite de cores na fuselagem

Desde então a maioria das companhias aéreas migrou para o esquema, que hoje se tornou praticamente o padrão universal do mercado.

Custo menor da pintura branca

Os aviões saem da linha de montagem com duas cores: verde para aeronaves com fuselagem de metal ou bege para as aeronaves de fuselagem de material composto. O verde vem da aplicação de uma camada do anticorrosivo cromato de zinco. Já o bege é a cor adotada nos materiais compostos. A partir daí, cada companhia aérea decide qual vai ser a pintura aplicada.

Boeing saindo da linha de montagem

Nesse ponto o custo começa a influenciar a escolha: cada camada aplicada representa um custo extra e para pintar um avião de outras cores que não o branco é preciso utilizar mais camadas, elevando o custo final da pintura – e de sua manutenção.

O custo extra não é só do material, mas do número de horas que o avião fica no hangar, já que cada camada de tinta tem que secar por pelo menos 12 horas para que a próxima possa ser aplicada. Veja como é trabalhoso o processo de repintura no vídeo abaixo:

Uma pintura nova de um Boeing 777, como esse acima da Emirates, pode custar entre US$ 100.000 e US$ 200.000 dependendo do número de cores escolhidas.

Peso menor da pintura branca

Cada camada de tinta adiciona não só custo à conta final, mas também peso à aeronave. E mais peso significa maior consumo de combustível. Um Boeing 737 pode ter um acréscimo de até 300 kg no seu peso dependendo da pintura escolhida. Cores claras permitem camadas mais finas de tinta e um avião mais leve.

Em janeiro, por exemplo, a American Airlines divulgou que trocaria a tinta cinza usada em seus aviões e com isso conseguiria economizar 3,8 milhões de litros de combustível por ano!

O branco retém menos calor

Quem já teve que esperar para um avião sair da posição de embarque sob o sol de verão sabe que uma aeronave pode se tornar uma sauna. E se ela tiver pintura escura o problema é ainda pior.

A cor branca, como aprendemos na escola, reflete a luz do sol, tornando mais barato para refrigerar uma aeronave em solo. Pra quem não sabe, na posição de embarque a energia para ligar o ar condicionado do avião vem de geradores externos chamados de GPU (Ground Power Unity – unidade de energia de solo).

A pintura branca facilita a manutenção

O branco aumenta a visibilidade de rachaduras, vazamentos de óleos e corrosões na fuselagem do avião. Isso permite que a manutenção possa agir rápido, reduzindo o tempo em solo do avião.

Aviões brancos facilitam o repasse e revenda

A maioria das companhias aéreas adquire seus aviões através de empresas de leasing aeronáutico. Adotar uma pintura branca ajuda na hora da negociação do preço, porque a empresa que aluga terá um custo menor para achar um novo operador temporário ou definitivo. Basta pintar a cauda e aplicar a nova pintura.

Boeing 747 pintado de branco, à espera do próximo operador

Companhias Aéreas na contramão

Se por um lado são inegáveis as vantagens econômicas de se pintar um avião de branco, por outro o marketing pode pesar na hora da escolha das cores dos aviões. A low cost americana Spirit, por exemplo, escolheu um amarelo super chamativo para pintar suas aeronaves. Impossível não notar seus aviões no meio do mar de branco que se vê nos aeroportos.

Low cost americana Spirit optou pelo amarelo para se destacar

Já a Breeze, nova companhia aérea de David Neeleman, fundador da Azul, também nadou contra a maré e vai adotar um bonito esquema de azuis que certamente fará com que ela se destaque quando estiver operando (desenho do mestre GianFranco Betting).

A novata Breeze tem uma das pinturas mais bonitas da atualidade

As 11 pinturas de avião mais bonitas de 2020

23/08/2020 às 6:58

A pintura de um avião é o cartão de visitas de uma empresa aérea. Suas cores, gráficos e tipografia são cuidadosamente escolhidos para passar uma imagem pensada ao passageiro. Algumas são verdadeiras obras de arte e chamam a atenção. Elaboramos então uma seleção com as 11 pinturas de avião mais bonitas de 2020.

Para a lista, escolhemos apenas as pinturas oficiais das companhias, sem qualquer ordem. Pinturas de avião especiais e comemorativas serão objeto de outro post que publicaremos em breve.

Air Tahiti Nui

Onipresente em qualquer lista de pinturas de avião mais bonitas do mundo, a Air Tahiti Nui abusa de elementos locais. A começar pela cauda, que ostenta uma Gardênia do Taiti (ou Flor de Tiaré) – a mesma dos colares de boas-vindas que os turistas recebem na chegada. Na fuselagem diversos motivos tribais cada qual com um significado diferente. Nem as duas listras vermelhas que acompanham o desenho estão ali à toa, elas remetem à bandeira da Polinésia Francesa.

Etihad

Que saudades da Etihad no Brasil, não é mesmo? O projeto de reposicionamento da marca é um dos casos de sucesso mais debatidos por especialistas e quase todo mundo concorda: a pintura dos aviões é belíssima, evocando as cores do deserto em formas geométricas:

Azerbaijan Airlines

Muitas das pinturas dessa lista tem motivos que remetem ao país de origem. Ainda que eu desconheça o projeto de renovação da Azerbaijan Airlines, ele não parece remeter a nada do país. Mas é linda, e essa lista fala exatamente disso: das pinturas de avião mais bonitas e sem dúvida nenhuma que essa merece estar nessa lista:

Airbus A340 da Azerbaijan

Fiji Airways

A pintura usou elementos nativos das Ilhas Fiji, como o artesanato tradicional Masi usado na cauda e nos motores.

Breeze Airways

A lista não ficaria completa sem esse grande trabalho do mestre Panda Betting, brasileiro que tanto nos orgulha. A Breeze, nova empreitada de David Neeleman, vai estrear com o pé direito com essa beleza de pintura:

Gulf Air

Pouco conhecida dentre as companhias aéreas do Oriente Médio, a Gulf Air, do Bahrein, recentemente teve sua identidade visual atualizada. Com menos uso do dourado, o resultado ficou muito elegante:

pinturas de avião mais bonitas

Boeing 787 da Gulf Air

Hawaiian Airlines

Nada pode ser mais havaiano! Seu símbolo, uma garota com uma flor no cabelo chamada de Pualani (“flor dos céus” no dialeto local) e a fuselagem envolvida com o Maile Lei (colar tradicional do Havaí) fazem dessa uma das pinturas mais bonitas do mundo:

pinturas de avião mais bonitas

Royal Air Maroc

A Air Maroc tinha uma pintura ultrapassada e resolveu evoluir. A nova pintura destaca mais as cores da bandeira do Marrocos e renova a identidade da companhia africana:

pinturas de avião mais bonitas

Boeing 787 da Royal Air Maroc

Vietnam Airlines

Embora pintar o avião de verde escuro não seja a escolha mais eficiente na questão térmica (as cores escuras absorvem mais calor e demandam maior uso do ar condicionando) é inegável que elas são lindas. E mais linda ainda é a pintura da Vietnam Airlines com sua flor de lótus dourada na cauda:

pinturas de avião mais bonitas

Boeing 787 da Vietnam Airlines

Westjet

A canadense Westjet usou elementos regionais como a folha de maple, símbolo do Canadá, para compor sua nova imagem, em diversos tons de azul. Uma curiosidade da nova pintura: do lado esquerdo da aeronave o slogan “O espírito do Canadá” aparece em inglês (“The Spirit of Canada”), e do lado direito em francês (“L’esprit du Canada”), as duas línguas oficiais do país.

pinturas de avião mais bonitas

Boeing 787 da Westjet

Air New Zealand

Embora a pintura branca seja a mais usual, a Air New Zealand possui oito aviões pintados de preto, o que qualifica essa pintura como oficial e não especial. O Rugby é o esporte mais popular na Nova Zelândia e sua seleção é chamada de All-Blacks, por conta do uniforme preto. Essa pintura homenageia o time famoso pela haka, dança executada pelo time antes dos jogos.

Extra: Melhores Destinos

Ok, provavelmente nunca veremos nossa livery em nenhum aeroporto mundo afora, mas nossos modelinhos ficaram muito bonitos não é? Quando uma pessoa entra para a equipe do site ganha um modelo desses e também já demos vários de presente para leitores. Qualquer dia desses a gente sorteia mais alguns!

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Embraer recebe novo pedido de 30 aeronaves E195-E2s

 

A Embraer divulgou hoje que assinou um pedido firme para 30 aeronaves E195-E2s com um cliente não revelado.

O contrato está avaliado em US$ 2,2 bilhões pelo preço de lista atual.

“Há uma demanda contínua por aeronaves do tamanho certo, eficientes, amigáveis às emissões e econômicas, à medida que as companhias aéreas de todo o mundo ajustam suas frotas e reconstroem suas redes”, disse a Embraer no comunicado.

A Embraer destacou em sua Perspectiva de Mercado para 2020 que as operadoras estão alinhando seus requisitos de capacidade. Isso se deve à demanda mais fraca, às mudanças no mix de negócios / lazer, ao impacto das restrições às viagens nas fronteiras internacionais e à necessidade de aviões mais ecológicos.

“Os E2s são ideais para o novo ambiente operacional”, afirma a fabricante brasileira.

Os 30 novos E195-E2s serão incluídos em nossa carteira de pedidos do segundo trimestre

quinta-feira, 29 de abril de 2021

JetBlue recebe o primeiro A321LR com o interior Airspace da Airbus

A JetBlue é a primeira companhia aérea a apresentar a nova cabine da Airbus em aeronaves de corredor único

A JetBlue Airways, com sede nos EUA, recebeu sua primeira de 13 aeronaves A321LR apresentando o novo interior Airspace da Airbus. Esses novos A321LRs apóiam o plano da JetBlue de abrir seus tão esperados serviços transatlânticos, começando com voos diretos para Londres ainda este ano. Veja a seguir como ficou o novo interior.

Além desses 13 novos A321LRs, a companhia aérea também encomendou outras 57 aeronaves Airbus, incluindo outras variantes do A321neo – que também contarão com cabines Airspace. Ao trazer o espaço aéreo para a família de corredor único, as cabines A321 da JetBlue serão as primeiras a apresentar a nova linguagem de design de cabine premiada da Airbus e recursos de cabine que agradam ao passageiro – que são consistentes com as aeronaves A330neo e A350 Widebody da Airbus.

Robin Hayes, CEO da JetBlue Airways Corp. disse: “Na JetBlue, estamos ansiosos para apresentar a aeronave Airbus A321 de corredor único de longo alcance com interior do Airspace da Airbus para nossos novos serviços transatlânticos. Essas aeronaves nos permitirão oferecer aos nossos clientes um serviço atencioso e estilo boutique, ao mesmo tempo em que garantem amplo espaço pessoal, compartimentos superiores maiores, iluminação personalizada e um design que confere à cabine uma sensação de maior espaço.”

“Estamos entusiasmados em ter a JetBlue estabelecendo mais uma tendência e apresentando a nova cabine do Airbus Airspace em seu serviço de longo alcance”, disse Christian Scherer, Diretor Comercial da Airbus. “Com certeza o excelente conforto e a experiência transatlântica a bordo dessas aeronaves serão os vencedores – para a JetBlue, seus valiosos passageiros e tripulantes!”

O espaço aéreo traz para a família A320 as seguintes melhorias na cabine que agradam aos passageiros: iluminação original de boas-vindas e personalizável (que ajuda a reduzir o jet lag); novos painéis laterais mais finos para espaço pessoal extra na altura dos ombros; melhores vistas através das janelas redesenhadas e persianas completamente integradas; as mais recentes tecnologias de iluminação totalmente LED; o maior compartimento superior da classe; e novos lavatórios com recursos higiênicos sem toque e superfícies antimicrobianas.

Além desses elementos da Airspace, a ampla seção transversal da cabine da Família A320 também permite que a JetBlue ofereça aos seus passageiros verdadeiro conforto de longa distância em todas as classes, com 24 assentos totalmente planos com colchão adaptável nas suítes privativas da classe premium Mint da companhia aérea, enquanto 114 passageiros da classe econômica apreciarão os assentos mais largos de 18,4 polegadas com encosto arredondado para espaço extra para os joelhos. A maioria desses assentos da classe econômica oferecerá um passo total de 32 polegadas, enquanto as quatro fileiras serão otimizadas para assentos “Even More Espace” – oferecendo cerca de cinco polegadas adicionais para o maior espaço para as pernas em qualquer assento da classe econômica transatlântica.

Os passageiros da JetBlue nesses A321LRs também poderão ficar conectados durante todo o voo com o Wi-Fi de alta velocidade gratuito e ilimitado da companhia aérea. Além disso, eles terão acesso a uma seleção selecionada de canais de TV ao vivo com foco em notícias e esportes, e uma extensa biblioteca de entretenimento no assento – permitindo uma experiência de “tela múltipla” a bordo. Os assentos também terão alimentação fácil de alcançar, com portas AC e USB-C para manter seus dispositivos portáteis totalmente carregados. Além de oferecer um rico portfólio de opções de entretenimento e conectividade para cada passageiro, o equipamento no assento dessas aeronaves também colocará o cliente no controle de suas escolhas alimentares, permitindo-lhes personalizar sua própria refeição diretamente na tela do encosto do assento.

Em 2017, na APEX Expo em Long Beach, a JetBlue foi revelada como o cliente lançadora da cabine Airbus Airspace para a Família A320. Após o anúncio, a Airbus e a JetBlue trabalharam juntas para trazer à realidade um novo nível de experiência do passageiro para os passageiros da JetBlue em seus A321LRs com espaço aéreo pela primeira vez.

A parceria de longa data entre a Airbus e a JetBlue começou em 1999, quando a JetBlue foi lançada e recebeu seu primeiro A320. Dois anos depois, a companhia aérea fez um pedido de 48 aviões Airbus. Após anos de crescimento extraordinário, a JetBlue agora opera uma frota de mais de 200 aeronaves A320 e A321 e tem cerca de 70 encomendadas – incluindo mais desses A321LRs, bem como outras variantes do A321neo – todos com interiores Airspace. Além disso, a companhia aérea também fez pedidos para o menor membro da família de corredor único da Airbus, o avião comercial A220, o primeiro dos quais entrará em serviço em breve.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

A saga do primeiro avião de caça com Asa em Delta

 O Javelin, que integrou a geração original dos caças a jato, criou um conceito usado hoje até pelo Gripen

Caça Gloster Javelin em voo

Javelin foi o primeiro caça de largo emprego com grandes asas em delta e cauda em T com superfícies enflechadas

Vencedor alquebrado da Segura Guerra Mundial, o Império Britânico ainda mantinha sua pujante e criativa indústria aeronáutica durante a década de 1950. Entre 1943 e 1959, os fabricantes Hawker, Supermarine, de Havilland, Gloster, English Electric, Hunting Percival e Folland desenvolveram jatos de caça e treinamento em sucessão.

A partir de 1951, um dos objetivos centrais da Real Força Aérea (RAF, na sigla em inglês) era cumprir as determinações do plano Super Priority, criado pelo então primeiro-ministro Winston Churchill que, de volta ao número 10 da Downing Street, queria proteger os céus do Reino Unido (e da Europa Ocidental) contra a crescente ameaça aérea soviética.

Coube ao Javelin o trabalho mais complexo. Projetado desde o princípio como interceptador noturno para operar em quaisquer condições meteorológicas, nasceu para substituir a versão desengonçada do biposto Gloster Meteor.

Primeiro caça de largo emprego a ser projetado com grandes asas em delta, foi um bimotor dotado de cauda em T com superfícies enflechadas e tripulado por um piloto e um operador de radar para orientar as interceptações e os disparos de mísseis guiados ar-ar (na época, em estágio embrionário).

Sua missão era abater os novos e ameaçadores bombardeiros que os soviéticos desenvolviam sucessivamente, como os Tupolev Tu-4 (código Otan, Bull), que entrou em testes em 1947, Tu-16 (Badger) e Tu-95 (Bear), de 1952 (o Bear está na ativa desde então), e o Myasishchev M-4 (Hammer), de 1953 – assim como os que jamais sairiam da fase de protótipos, como o Tupolev Tu-85 (Barge), de 1951, o Ilyushin Il-54, de 1955, o Tu-98 (Bakfin), de 1956, e o Yakovlev Yak-26 (Flashlight), de 1956.

Um trabalho enorme para um aparelho que, apesar de impor respeito aos adversários pelo tamanho, capacidade e armamento, nasceu repleto de falhas decorrentes da aplicação de novas tecnologias. Algo que só aos poucos seria corrigido.

Concorrência

Protótipo do Gloster Javelin em voo

Primeiro protótipo, matrícula WD804, que foi consumido pelas chamas após um pouso de emergência em 1952

Desenvolvido pelo projetista George Carter, da Gloster Aircraft, o Javelin acabou por ser a última aeronave do fabricante que fez voar o memorável Meteor, o primeiro jato a operar pelos Aliados na Segunda Guerra Mundial.

Em 1961, a empresa acabaria fundida para a formação Whitworth Gloster Aircraft Limited. Não foi um desenvolvimento fácil. Havia sobreposição de especificações nos requerimentos expedidos desde 1947 pelo Ministério da Defesa (MoD) britânico. Desde o início, dois projetos estavam em pauta. O caça diurno acabou se tornando o gracioso e longevo modelo Hawker Hunter.

Para o caça noturno operável em quaisquer condições climáticas, a Gloster apresentou o projeto GA.5, que enfrentou a concorrência acirrada da de Havilland, com seu DH.110. A especificação F.4/48 e a requisição operacional OR.227 definiam que o aparelho seria equipado com quatro canhões de 30 mm (no Javelin, instalados em berços sob a fuselagem), cabine pressurizada, quatro mísseis AA e um potente radar, devendo voar a 970 km/h (525 nós) a 12.190 m (40 mil pés), altitude que deveria ser atingida 10 minutos após o acionamento dos motores.

Novas exigências incluiriam capacidade mínima de voo de duas horas, decolagem em pistas de 1.500 m, resistência estrutural em manobras de até 4 g e equipamentos auxiliares de navegação. A encomenda inicial de 150 aeronaves deveria ser suprida por uma produção mínima de 10 unidades ao mês.

Após uma série de estudos (alguns defasados), a Gloster chegou a alguns desenhos próximos do projeto final. Houve uma série de estudos aerodinâmicos para a adoção das novas asas em delta e a acomodação dos motores escolhidos, o Armstrong Siddeley Saphire Sa.6, com 35,6 kN (8.000 lbf) de empuxo, em substituição aos pesados e menos potentes Rolls-Royce Avon.

O resultado foi um jato robusto, mas harmonioso, com uma larga deriva quando visto de perfil e atarracado quando visto de frente e do alto, com grandes tomadas de ar ao lado do cockpit e asas pesadas, repletas de combustível.

Gloster Javelin em voo

Vencedora da concorrência, a Gloster fez decolar o primeiro dos sete protótipos do GA.5 em 26 de novembro de 1951, sob o comando do squadron leader (na FAB, major) Bill Waterton, chefe dos pilotos de testes.

Estranhamente para os padrões atuais, o cockpit do operador de radar era parcialmente coberto, pois havia a crença de que a luminosidade externa atrapalhava a visualização dos sinais na tela – o que foi corrigido logo depois.

Sob a matrícula WD804, o aparelho desarmado e sem radar se comportou bem, tanto que Waterton afirmou que o caça “era tão fácil de pilotar quanto um Anson (um antigo treinador bimotor a pistão de comandos suaves)”. Na prática, porém, sua afirmação era pura propaganda ou ele estava muito enganado. O Javelin se revelou traiçoeiro para alguns.

Já o projeto perdedor, o de Havilland DH.110, foi aprovado pela Marinha Real (Royal Navy), que solicitou alterações que criariam o Sea Vixen, que permaneceu em operação embarcada até 1972.

Desventuras em série

Os problemas do Javelin surgiriam logo depois. O aparelho tinha tendência a vibrar excessivamente durante giros e cabradas. Em 29 de junho de 1952, durante um teste em velocidade elevada, fortes vibrações causadas pelo fluxo de ar na traseira da fuselagem e nos bocais dos motores arrancaram os dois profundores, o que obrigou Waterton a pousar sem superfícies de controle.

Durante a manobra, os trens de pouso deixaram de funcionar. Auxiliado, em parte, pela capacidade de pouso em ângulos pouco acentuados, o piloto conseguiu se salvar, mas o protótipo foi perdido na pista, consumido pelas chamas. Tamanha habilidade sob a pressão daquelas circunstâncias rendeu ao aviador uma medalha.

O acidente exigiu uma série de modificações em asas, fuselagem e superfícies de controle. Parado no hangar desde agosto de 1952, quando foi concluído, o segundo protótipo, matrícula WD808, tinha novas asas e passou a ser pilotado por Peter Lawrence.

Gloster Javelin em voo

Durante um teste, em 11 de junho de 1953, um acidente vitimou Lawrence, que ejetou tarde demais. Um fenômeno conhecido como deep stall (estol profundo) elevou abruptamente o nariz da aeronave, fazendo-a perder quase simultaneamente velocidade, sustentação e capacidade de controle.

O novo problema estava na cauda em T, que, quando atingida pela turbulência gerada pelo fluxo de ar das asas em determinados ângulos, provocava perda de controle. A solução foi instalar um alarme na cabine para prevenir o piloto.

O novo acidente não impediu a assinatura do contrato de produção. A RAF precisava urgentemente de um novo interceptador. O terceiro protótipo, WF827, voou em 7 de março de 1953 dotado de radar e armamentos.

Já a quarta aeronave, o WT830, desarmada e sem radar, mas dotada de ailerons operados por um motor, fruto das alterações decorrentes do acidente com o segundo protótipo, foi enviada para testes nas instalações da RAF, em Boscombe Down, em 14 de janeiro de 1954. A quinta, WT836, voou pela primeira vez em 20 de julho de 1954.

Dias antes, em 4 de julho, um Javelin acidentalmente ultrapassara a barreira do som em mergulho sobre Londres, causando uma série de queixas. O piloto alegou ter se distraído com o equipamento de oxigênio, porém, houve suspeita de que a intenção da Gloster era “mostrar serviço”, calando a imprensa, que afirmava que o Javelin não conseguiria atingir Mach 1.

Gloster Javelin em voo

Em razão das sucessivas modificações no projeto, dois dias após a entrega do quinto e último protótipo, decolou em Hucclecote a primeira unidade de produção, sob a matrícula XA544. As lições advindas com os testes obrigaram a Gloster a modificar as primeiras três aeronaves de série, que só iriam para suas bases operacionais em fevereiro de 1956. Denominado oficialmente Fighter Javelin All Weather Mark 1 (FAW.1), o primeiro exemplar de série tinha o piloto de testes Dicky Martins nos comandos. Ao todo seriam encomendadas 429 unidades em oito versões. Produzido ainda enquanto o Gloster Meteor tinha encomendas em aberto, peças e partes de sua fuselagem tiveram de ser subcontratadas. Com as possibilidades de exportação se mostrando cada vez mais reduzidas, a RAF colocou mais de duas dezenas de FAW.1 em testes operacionais no Esquadrão 46, em Odiham.

Atrasos

FAW.7 do Esquadrão 64

FAW.7 do Esquadrão 64, baseado em Duxford, em 1959: o ângulo mostra os casulos ventrais dos canhões de 30 mm

As limitações iniciais eram tantas que, apesar de considerados em serviço”, os caças não podiam praticar algumas das manobras de combate previstas e, para piorar, não contavam com o míssil guiado por radiação infravermelha Firestreak, ainda em desenvolvimento.

O Javelin só se tornaria definitivamente operacional com a versão FAW.2, equipada com o radar americano APQ.43, no lugar do esperado AI.17. O APQ.43 deu ao FAW.2 um nariz mais rotundo, entrando em serviço nos Esquadrões 46 e 89. Em seguida, veio uma versão de treinamento, T.3, sem radar e com fuselagem alongada para compensar o desequilíbrio, o que permitiu a instalação de tanques de combustível maiores.

Inovador e arrojado para o seu tempo, o Javelin seguia indócil aos pilotos. Em 21 de outubro de 1954, o XA546 entrou em parafuso, matando um piloto da RAF designado à Gloster. Em 8 de dezembro de 1955, outro incidente, quando o XA561 entrou em parafuso chato sem que o paraquedas antispin conseguisse evitar.

O piloto ejetou. As versões posteriores apresentaram alterações que corrigiam os sucessivos problemas. Não existia até então um Javelin definitivo. Com radar AI.17, a versão FAW.4, de 19 de setembro de 1955, adotou geradores de vórtice e um leme acionado hidraulicamente por um motor (como um dos protótipos) para evitar estol em baixa velocidade.

Foram produzidas 50 unidades. O FAW.5, de 26 de janeiro de 1956, era uma atualização da versão 1 com novas asas e as modificações aerodinâmicas da versão 4 que teve 64 unidades produzidas. Já a FAW.6 era apenas a versão 5 com radar APQ. 43 (33 construídos) que voou em 15 de janeiro de 1957.

Acertos

Só com entrada em serviço do FAW.7 (142 construídos), em novembro de 1956, equipado com os quatro mísseis Firestreak exigidos desde o início, é que o Javelin atingiu a maioridade. O modelo contava com novos motores Saphire Sa.7, com 49 kN (11.000 lbf) de empuxo, leme reforçado, fuselagem estendida à ré e quatro canhões Aden de 30 mm no lugar de dois. Aerodinâmicos, os mísseis instalados nas asas não prejudicavam o desempenho em voo.

O FAW.8, de maio de 1958, tinha novos motores Sa.7R com pós-combustores limitados que atingiam 56 kN (12.600 lbf) de empuxo, mas que não podiam ser acionados com eficiência abaixo de 6.000 m. Outra novidade era a substituição da ignição por cartucho pela injeção de nitrato isopropílico.

Curiosidade: quando a partida não funcionava na primeira tentativa, a segunda gerava uma impressionante língua de fogo nas tubeiras. Os pilotos reclamavam do risco de incêndio. As mudanças foram tantas que quando começaram as entregas do FAW.8, o FAW.7 ainda estava em produção.

Como consequência, parte dos FAW.7 foi para o estoque, de onde sairiam em 1959 as 118 unidades convertidas ao padrão FAW.9, estas com novas asas e motores atualizados. Por fim, 40 exemplares do “9” foram transformados em FAW.9R, com grandes tanques destacáveis.

Houve também o FAW.9R(F/R), equipado com uma sonda de reabastecimento em voo, então uma novidade. Outras versões foram estudadas, mas demandariam a criação de um Javelin praticamente do zero, sendo descartadas pela RAF. Uma delas, com uma asa em delta afilada (P.376), seria capaz de atingir Mach 1,6 em voo nivelado.

Se a vida do Javelin foi conturbada, muito se deveu às tecnologias aeronáuticas testadas em seu projeto, principalmente a asa em delta e a cauda em T, soluções consideradas fundamentais para manobras de alta velocidade em grandes altitudes, onde deveria enfrentar os bombardeiros nucleares russos.

Em sua última missão, o Javelin defendeu Hong Kong, ao lado dos derradeiros Spitfire. Na foto os aviões no lendário aeroporto de Kai Tak

Vantagem fundamental para um interceptador, o Javelin podia ser acionado e decolar com mais rapidez do que o Meteor. Sua manutenção também era mais fácil. Nele foram instalados os primeiros assentos ejetáveis de série em um caça britânico. Nos primeiros testes operacionais, o Javelin foi capaz de interceptar bombardeiros Canberra a 160 km (100 milhas) sobre o Mar do Norte em missões noturnas, dando à RAF uma capacidade inédita. Com as modificações e assim que habituados ao caça, os pilotos passaram a considerá-lo robusto e confiável, com um cockpit espaçoso e de boa visibilidade, recebendo os apelidos de Flying Triangle e Ace of Spades.

Ainda que não tivesse sido projetado para dogfight, durante um engajamento o acionamento de seus eficazes freios aerodinâmicos faziam com que os oponentes que tentassem se posicionar na cauda de um Javelin simplesmente passassem direto, tornando-se subitamente alvos de seus canhões. Esse equipamento também permitia descidas para pouso em ângulos acentuados.

Ao lado do Hunter, o Javelin formou a espinha dorsal da caça da RAF, todavia, sua vida operacional não foi longa. A tecnologia evoluía tão rapidamente naquela época que, em 1964, o Reino Unido começou a substituir o Javelin pelo English Electric Lightining. Em 1966, os aparelhos baseados na Alemanha foram desmobilizados, seguidos pelos de Chipre, em 1967, e os de Cingapura, em 1968.

O último exemplar mantido para testes foi aposentado em 1975. Em diferentes estados de conservação, dez aviões são mantidos em exposição estática: oito no Reino Unido, um na Itália e outro na África do Sul. Os dois melhores exemplares estão no Museu da RAF, em Cosford, e no Museu Imperial de Guerra, em Duxford, Inglaterra.

Pouca ação na vida do ‘Dardo’

Protótipo com o cockpit do operador do radar encoberto

Em junho de 1960, um Javelin FAW.7 abateu um Meteor convertido em drone durante os testes do míssil Firestreak. Foi o primeiro e único “abate” de um interceptador que teria muito trabalho durante a Guerra Fria, mas que jamais esteve em ação de verdade.

Os 436 exemplares construídos foram distribuídos em 21 esquadrões no Reino Unido, Alemanha Ocidental, Chipre e Cingapura. Em Chipre, os Javelin costumavam interceptar as aeronaves turcas que se aventuravam perto da ilha, bem como cargueiros e aviões de reconhecimento soviéticos que voavam sobre o Mediterrâneo Oriental, indo e vindo do norte da África.

Entre setembro de 1963 e agosto de 1966, os Esquadrões 60 e 64 foram deslocados de Cingapura para a Malásia, durante os confrontos fronteiriços com a Indonésia. Em 1964, um Hércules indonésio acabou colidindo com o solo enquanto tentava escapar de um FAW.9. No final de 1965, dez FAW.9R de Chipre foram deslocados para Zâmbia, a fim de dissuadir um eventual ataque da Rodésia, que acabara de declarar independência. Sem aeroportos de escala, os caças fizeram a travessia equipados com seis tanques externos, sobrevoando o Egito sem autorização, o que gerou protestos.

Em junho de 1967, Esquadrão 60 foi transferido de Cingapura para o Hong Kong, durante a Revolução Cultural Chinesa. Em sua última operação, o Javelin esteve ao lado dos derradeiros Spitfire (F-24) da RAF, então lotados no lendário aeroporto de Kai Tak.

Gloster Javelin FAW Mk 9

Tipo: Interceptador bimotor biposto para quaisquer condições climáticas
Fabricante: Gloster Aircraft Company
Projetista: George Carter
Primeiro voo: 26/Nov/1951
Entrada em serviço: 29/Fev/1956
Produção: 436 unidades
Tripulação: piloto e operador de radar
Usuários: Reino Unido, África do Sul
Motores: (2x) Armstrong Siddeley Sapphire 7R 
Empuxo: 54,7 kN (12.300 lbf) cada

Dimensões

Comprimento: 17,5 m
Envergadura: 15,85 m
Altura: 4,88 m
Área alar: 86 m²

Pesos

Vazio: 10.886 kg
Carregado: 14.325 kg
Máximo na decolagem: 19.580 kg

Performance

Velocidade (máxima ao nível do mar): 1.140 km/h
Alcance: 1.530 km (956 mn)
Teto de serviço: 15.865 m
Armamento: 4 canhões Aden de 30 mm, foguetes ou até 4 mísseis ar-ar de Havilland Firestreak (alcance de 6,5 km)

* Texto publicad