Em todo o mundo, as companhias aéreas estão estacionando e aposentando aviões, porque o número de passageiros caiu para quase zero. Um tipo de companhia aérea, no entanto, está fazendo o oposto, adicionando novas aeronaves, mesmo quando frotas inteiras estão aterradas para sempre: as principais transportadoras de carga dos EUA.
Estas companhias aéreas estão comprando dezenas de jatos novos e recolhendo os usados, buscando atender à demanda do aumento das vendas de comércio eletrônico e, a curto prazo, compensar a perda de espaço de carga nos porões dos aviões de passageiros, que normalmente transportam cargas bem como bagagem de passageiros.
Um caso em questão é a UPS Airlines, que provocou ondas entre os seguidores da aviação na semana passada, quando disse que estava comprando um punhado de MD-11 usados, jatos que foram retirados do serviço de passageiros na última década. A adição foi surpreendente porque o MD-11 é um avião de três motores, uma escolha estranha no momento em que a maioria das companhias aéreas está escolhendo jatos de dois motores para aumentar a eficiência de combustível.
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“Os MD-11 fazem parte de uma expansão de nossa frota para atender à crescente demanda dos clientes, principalmente do comércio eletrônico”, disse Jim Mayer, gerente de relações públicas da UPS Airlines em um email.
Mas os MD-11 têm duas características muito atraentes: podem transportar muita carga e são baratos. “Uma compra muito econômica”, disse Mayer, acrescentando que a UPS está comprando da Boeing, que se fundiu com a fabricante original, McDonnell Douglas, nos anos 90.
A UPS Airlines, o braço de frete aéreo da UPS, não para por aí e também adiciona mais 13 cargueiros Boeing 747-8F – novos, entregues diretamente da Boeing. Com 15 já na frota, a UPS Airlines se tornará em 2022 a maior operadora do mundo do 747-8, a versão mais recente – e provavelmente a última – do famoso Jumbo Jet. Além disso, há 22 Boeing 767 chegando.
“Não estamos retirando nenhuma aeronave”, disse Mayer. Atualmente, a UPS está voando com 265 aviões, a segunda maior frota de carga total, depois da FedEx Express. A UPS adicionará mais de 12 milhões de libras de capacidade de transporte à sua frota, a maior parte para atender à crescente demanda de comércio eletrônico. “O volume de pacotes aéreos no dia seguinte cresceu 20,5% no primeiro trimestre de 2020, o quarto trimestre consecutivo de aumentos de dois dígitos”, disse Mayer. Esse é um crescimento muito mais rápido que o volume médio diário enviado por via aérea e terrestre à UPS nos EUA, que cresceu 8,5% no trimestre.
A rival FedEx Express também está pilotando a maioria de seus aviões, diferentemente das transportadoras de passageiros, com 431 de seus 450 aviões atualmente em serviço. Ela tem 73 pedidos, entre os 767 e 777 e também está comprando novos da Boeing. A terceira maior em tamanho de frota entre as transportadoras americanas de carga, a Atlas Air, atualmente está voando pelo menos 69 de seus 79 jatos, de acordo com sites de rastreamento de frotas.
Mas enquanto os transportadores de carga estão carregando muitos pacotes, eles também enfrentam uma queda na demanda pelo envio de outros produtos, com a UPS e a FedEx alertando que a pandemia está prejudicando os lucros. As duas empresas reportaram queda no lucro líquido no primeiro trimestre do ano. A FedEx, por exemplo, viu um aumento na demanda, já que a maioria dos aviões de passageiros – que em condições normais transportam cerca de metade da carga aérea do mundo – foi aterrada. Mas a economia mundial está encolhendo e isso também prejudicará os transportadores de carga. “Devido ao enfraquecimento das condições econômicas na Europa e nos Estados Unidos e consequentes reduções na demanda por produtos fabricados na Ásia, não há garantias de que esse aumento nos níveis de demanda seja sustentável”, afirmou a FedEx em comunicado.
O crescimento do comércio eletrônico está alimentando o crescimento de outra companhia aérea de carga total, que ameaça receber grande parte das entregas aéreas de pacotes comprados on-line: a Amazon Air.
A Amazon fez metade de suas próprias entregas no ano passado, o que significa que as grandes companhias aéreas de carga estão fazendo menos uso de suas aeronaves, mesmo quando o comércio eletrônico cresce. As vendas no varejo nos EUA cresceram 2,1% no primeiro trimestre de 2020 em comparação com o ano anterior, enquanto as vendas de comércio eletrônico cresceram 14,8%, mostram estatísticas do governo. E se a Amazon Air – anteriormente conhecida como Amazon Prime Air – eventualmente faz todo o seu transporte, isso significa problemas para os players estabelecidos: a UPS depende da Amazon para quase 12% de sua receita, segundo dados citados pela Reuters.
De fato, a frota de aviões a jato da Amazon Air está crescendo tão rápido que se tornou tão grande quanto as frotas reduzidas de coronavírus de algumas das principais companhias aéreas de passageiros. A própria companhia aérea da Amazon voa com 43 jatos atualmente, de acordo com sites de rastreamento de frotas – pequenos alvos comparados aos grandes players, mas ainda tantos aviões quanto a Lufthansa, que atualmente voa apenas 43 devido à demanda reduzida. A companhia aérea de propriedade do maior varejista on-line do mundo tornou-se, pelo menos até a recuperação do tráfego de passageiros, comparável em tamanho à transportadora de bandeira da Alemanha, a maior economia da Europa.
Todos os aviões da Amazon são 737 e 767 convertidos que costumavam voar com passageiros e foram transformados em aeronaves para transporte de encomendas. Parece uma representação perfeita das mudanças na aviação comercial provocadas pela pandemia: enquanto as pessoas ficam em casa, os produtos que cada vez mais compram on-line voam em aviões que costumavam transportar viajantes.
Fonte: The Point’s Guy
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