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sábado, 27 de maio de 2023

1958. Quem ganharia?*

 Estamos em outubro de 1958, cinqüenta anos atrás. A compra de 60 jatos Gloster Meteor Mk8 monopostos, cujo contrato deveria ter sido assinado em outubro de 1952, não se realizou por razões políticas. A maioria dos esquadrões de caça da FAB são obrigados a se virar com treinadores North American T-6, montados sob licença desde 1944 em Lagoa Santa, Minas Gerais.

Como paliativo, uma quantidade pífia de velhos Meteor Mk III, em processo de substituição na Royal Air Force por modelos mais recentes, foi comprada para equipar o 1º Grupo de Aviação de Caça. A força de combate da FAB não era a maior prioridade do Ministério da Aeronáutica, com muitos outros problemas de infra-estrutura aeroportuária para resolver, mas a situação ficou tão grave, na comparação com o poder de fogo de nossos vizinhos, que uma concorrência internacional teve que ser realizada. A exigência principal era que os modelos, ou versões anteriores dos mesmos, já estivessem em operação nos seus países de origem.

Surpreendentemente, a concorrência agitou o mercado de defesa, e após o recebimento de propostas de indústrias de vários países, inclusive uma inusitada, secreta e rejeitada (devido à guerra fria) oferta soviética envolvendo o novíssimo Sukhoi Su-7, três semi-finalistas foram anunciados no final de setembro de 1958: um caça francês, da Dassault, um sueco, da Saab, e um norte-americano, da McDonnell (que posteriormente se uniria à Douglas e, décadas depois, seria comprada pela Boeing). Conheça os três finalistas, e dê seu palpite sobre quem ganharia essa inusitada, 100% improvável e absolutamente impossível disputa.

Dassault Super-Mystère

O novo caça da Dassault, apesar de sua semelhança com os Mystère desenvolvidos desde o início dos aos 50, por sua vez descendentes dos Ouragan do final dos 40, é considerado um tipo completamente novo. De fato, é o 1º caça da Europa Ocidental capaz de Mach 1 em vôo nivelado a entrar em operação. O vôo do protótipo, com um motor inglês, foi em março de 1955, mas as primeiras unidades entregues à Armeé de l’Air nos anos seguintes já possuíam motores SNECMA Atar 101G2 ou G3, com 4.460 kg de empuxo em pós-combustão. É considerado por especialistas como uma excelente escolha, mas sabe-se que um sucessor capaz de Mach 2, desenvolvido a partir do pequeno demonstrador MD 550 Mirage I que voou em 1955, pode deixá-lo obsoleto.

Envergadura: 10,51m. Comprimento: 13,95m. Altura: 4,55m. Peso vazio: 6.932kg.
Velocidade máxima: Mach 1,12 a 12.000m. Alcance 1790 km.
Armamento: dois canhões de 30mm e 35 foguetes ar-ar de 68mm armazenados internamente, mas especula-se que poderá, em breve, empregar mísseis ar-ar de guiamento infravermelho, armas tidas como revolucionárias para o combate.

SAAB 32B Lansen

Com o fechamento da linha de produção do pequeno J 29 (o primeiro caça europeu de asas enflexadas a entrar em serviço), a SAAB ofereceu o modelo 32B Lansen, desenvolvido a partir do avião de ataque 32A. Trata-se de uma variante de dois assentos, interceptador de qualquer tempo e caça noturno, com nova estrutura, motor, novos aviônicos e armamento mais poderoso. O primeiro protótipo voou em janeiro de 1957, e o motor de origem inglesa (Avon Mk 47 A), produzido localmente sob licença, desenvolve 6.660 kgp com pós-combustão. Especialistas alertam que sua velocidade é baixa e que um protótipo de um novo caça capaz de Mach 2, o Saab 35 Draken, já voou em 1955 – mas está fora da concorrência por não ter ainda entrado em serviço.

Envergadura: 13m. Comprimento: 14,94m. Altura: 4,65m. Peso vazio: 7.500kg.
Velocidade máxima: Mach 0,93 a 10.975m. Alcance: 2000 km.
Armamento: quatro canhões de 30mm. Sabe-se que a Suécia está desenvolvendo uma versão do míssil ar-ar Sidewinder, norte-americano, para equipar sua força de caças. Provavelmente o Lansen carregará 4 dessas armas.

McDonnel F-101B Voodoo

Desenvolvido a partir dos caças de penetração F-101 A e C, agora como um interceptador biposto para qualquer tempo, seu protótipo voou em março de 1957. Os dois motores são desenvolvimentos dos Pratt & Whitney J57, agora na versão P-55, produzindo 7.666 kgp em pós-combustão cada um. Especialistas duvidam que o avançado sistema de controle de tiro Hughes MG-13 para os mísseis ar-ar seja liberado. Alguns elogiam sua autonomia, mas outros criticam as grandes dimensões do caça. Há quem diga que modelos mais antigos como o F86 Sabre seriam mais indicados ao Brasil, já outros opinam que o F-101 não está à altura de outros novos modelos norte-americanos, como o F-4 Phantom II. De qualquer forma sabe-se que os EUA não querem perder sua influência na região.

Envergadura: 12,09m. Comprimento: 13,95m. Altura: 5,49m. Peso vazio: 12.924kg.
Velocidade máxima: Mach 1,63 a 10.670m. Alcance 2.446 km.
Armamento: inova por não levar canhões, considerados obsoletos. Leva 4 dos novíssimos mísseis ar-ar AIM-4 Falcon, dois externamente e dois na baia interna, utilizando um engenhoso sistema rotativo para lançá-los.

Fotos: História da Força Aérea Brasileira e Avions Legendaries

*NOTA PÓS PUBLICAÇÃO DO EDITOR: este post publicado em outubro de 2008 foi uma paródia à situação dos programas F-X e F-X2 de seleção de caças para a FAB à época da publicação, visando promover um debate bem-humorado desses programas por parte dos leitores do Poder Aéreo, descontraindo um pouco das discussões que frequentemente levavam a brigas pessoais entre os debatedores.

Trata-se de uma peça de ficção e história contrafactual (do tipo “e se”, em que se coloca como pressuposto algo que não ocorreu historicamente), cuja dica de que se trata de uma paródia histórica é indicada ao final do terceiro parágrafo: “Conheça os três finalistas, e dê seu palpite sobre quem ganharia essa inusitada, 100% improvável e absolutamente impossível disputa.”

Parte dos comentaristas (veja comentários abaixo) demorou um pouco para perceber a brincadeira, apesar do caráter de história contrafactual também ser estabelecido claramente logo no início do texto, ao apresentar uma situação que sabidamente não ocorreu (“A compra de 60 jatos Gloster Meteor Mk8 monopostos, cujo contrato deveria ter sido assinado em outubro de 1952, não se realizou por razões políticas.”) para então levantar possibilidades contextualizadas historicamente, a partir desse pressuposto totalmente fictício.

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