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sábado, 20 de maio de 2023

O que aconteceu com SABENA?

 

A SABENA, cujo nome era apenas o acrônimo de “Societé Anonyme Belge d'Exploitation de la Navigation Aérienne”, foi a companhia aérea de bandeira da Bélgica desde sua fundação em 1923 até 2001. Mas o que aconteceu com esta outrora orgulhosa companhia aérea nacional? Diogo Monteiro olha para a sua história.

Por RuthAS – Trabalho próprio, CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=10670294

A SABENA foi fundada em parte por cidadãos belgas, residentes no Congo Belga (na época uma colônia) que haviam perdido sua única conexão aérea entre Léopoldville, Lisala e Stanleyville no ano anterior. É por isso que, desde a sua fundação, a SABENA ocupou um lugar importante na história da Bélgica e nas ligações entre a Europa e a África Central, tendo sido pioneira em 1925 com voos de longo curso entre os dois continentes, ligando Bruxelas a Leopoldville (Capital do Congo Belga). Com este paradigma, a SABENA manteve uma longa e forte tradição de servir destinos africanos, sendo estes destinos as únicas rotas rentáveis ​​para a companhia aérea durante algum tempo.

Por RuthAS – Trabalho próprio, CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=10670314

O desenvolvimento da SABENA ao longo dos anos não contrastou muito com o de outras companhias aéreas europeias. Inicialmente, até o início da Segunda Guerra Mundial, a companhia aérea utilizava apenas aviões menores para destinos específicos, mantendo rotas apenas para a África durante a Segunda Guerra Mundial. Após o fim do conflito em 1945, a companhia aérea introduziu gradativamente os aviões Douglas, o que permitiu a expansão de sua malha, que atingiu seu auge em 1957, com a introdução do DC-7 para rotas transatlânticas e para voos importantes da África.

O fim deste período inicial de expansão, associado ao pós-guerra, terminou em 1960, quando a SABENA introduziu na sua frota o primeiro avião a jacto: o icónico Boeing 707 para servir rotas de longo curso, tendo sido uma das primeiras companhias aéreas da Europa operando um jato no Atlântico. Seguiu-se a introdução do Caravelle para rotas de médio curso, operando em paralelo com o Convair 440, e mais tarde em 1967 o Boeing 727-100, que também foi incorporado à frota.

O início dos anos 1960 viu uma grande reviravolta para a SABENA no Congo. Motins generalizados contra colonos belgas nos meses anteriores e posteriores à independência da República Democrática do Congo fizeram com que milhares de belgas fugissem do país. O governo belga confiscou toda a frota de longo curso da SABENA para trazer refugiados belgas de volta à Europa. A independência do Congo também marcou o fim da impressionante rede regional de rotas que a companhia aérea havia construído no Congo desde 1924.

 

Crescimento da rede e da frota

Por RuthAS – Trabalho próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=48175887

A década de 1970 fica marcada pelo aumento da frota e da rede: a SABENA passa a ser operadora do clássico Boeing 747 nas rotas de longo curso (especialmente para Nova Iorque), com o 747 a operar em conjunto com o 707 e o DC-10-30 em 1974. Foi também na década de 1970 que os Boeing 727 terminaram o serviço com a SABENA, tendo a companhia aérea optado pela compra de Boeing 737-200 para rotas europeias de médio curso a partir de 1973.

Foi na primeira metade da década de 80 que a SABENA entrou na era Airbus, com a aquisição do Airbus A310 para rotas com elevada densidade de passageiros em 1984. A introdução deste avião foi o suporte necessário para a SABENA modernizar a sua imagem corporativa. Em 1983, o primeiro 747-300 pousou em Bruxelas, já ostentando as novas cores da companhia aérea, com o objetivo de substituir os antigos Boeing 747-100.

É no início da década de 1990 que se começa a desenhar o início do fim da SABENA devido a uma mudança radical na forma de operar e no ambiente aeronáutico europeu. Para enfrentar os novos desafios da década, foi adotado um novo nome: SABENA World Airlines e uma nova pintura. Nova década, novos aviões: o DC-10-30 e o icônico 747 são substituídos pelos mais eficientes e modernos Airbus A330 e Airbus A340, respectivamente.

 

Conflitos Financeiros e Fusões

Como mencionado, o paradigma aeronáutico europeu mudou com a liberalização do setor aéreo europeu, juntamente com todas as consequências econômicas que a Guerra do Golfo trouxe. Com esses graves problemas no horizonte, o principal acionista da companhia aérea, na época, o governo belga, percebeu que a SABENA tinha poucas ou nenhuma chance de sobreviver sozinha em um mercado que se tornara muito mais agressivo e competitivo. Com as primeiras nuances de criação de alianças comerciais entre companhias aéreas no horizonte, o governo belga rapidamente iniciou uma busca para encontrar um parceiro comercial para combinar com a transportadora de bandeira belga.

A SABENA entrou numa situação financeira precária e, ano após ano, o Governo belga teve de cobrir as perdas financeiras, mas foi rapidamente impedido de fornecer novos fundos devido às regras de auxílios estatais da União Europeia (que ainda hoje vigoram).

Por volta de 1987, a companhia aérea escandinava SAS tentou se fundir com a companhia aérea belga, mas a fusão foi bloqueada pelas autoridades belgas. Em 1989, a British Airways e a KLM compraram ações da SABENA, que posteriormente foram novamente vendidas ao governo belga. Em 1993 o cenário se repetiu, com a Air France adquirindo uma grande participação minoritária na SABENA, que posteriormente foi vendida. Finalmente, em 1995, surge a Swissair que compra 49% do capital da SABENA e assume a administração e gestão operacional da companhia aérea.

Sabena MD-11 OO-CTC

Com a Swissair a assumir a gestão operacional da SABENA, em Março e Abril de 1998, são alugados dois MD-11 à CityBird, que são incorporados na frota, de forma a reintroduzir destinos de longo curso como Nova Iorque – Newark, Montreal e São Paulo. Está ainda encomendada 34 aeronaves da família Airbus A320, com o objetivo de uniformizar a frota e reduzir os custos operacionais e de formação, operando em paralelo com a frota Swissair Airbus.

 

O Fim da SABENA

SABENA, SA Airbus A340-311 (OO-SCZ/051)

O início do milénio não foi fácil para a SABENA, nem para as companhias aéreas em geral que cruzaram o Atlântico. Uma profunda recessão aérea resultou dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington DC. A Swissair, controladora da SABENA, prometeu investir milhões na companhia aérea belga, mas não o fez, em parte porque a própria companhia aérea suíça já estava com sérios problemas financeiros, tendo pedido proteção contra falência um mês antes.

A SABENA, incapaz de encontrar fontes de financiamento rápido, entrou com pedido de proteção judicial contra seus credores em 3 de outubro e entrou em liquidação em 6 de novembro de 2001. No mesmo dia, Fred Chaffart, presidente do conselho de administração da SABENA, leu um comunicado explicando o decisão.

O último dia de operações da SABENA decorreu no dia seguinte, 7 de Novembro de 2001, com o voo SN690 (operado por um Airbus A340-300, matrícula OO-SCZ), com partida de Abidjan, na Costa do Marfim, (com escala em Cotonou , Benin), sendo este, o último voo da SABENA a aterrar no Aeroporto de Zaventem, em Bruxelas. O A340, que transportava 266 passageiros e 11 tripulantes, fechou um ciclo de 78 anos. Era o fim da história, nada desejável para uma companhia aérea que despontava como carro-chefe da economia nacional belga e uma lendária companhia aérea mundial no setor de aviação.

 

Depois da SABENA

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No meio do colapso da companhia aérea, um grupo de investidores conseguiu adquirir a Delta Air Transport, (que era uma das subsidiárias da SABENA), transferindo alguns ativos da SABENA, transformando-a em “SN Brussels Airlines” em 2002. Esta nova companhia aérea fundiu-se com a Virgin Express em 2006, para formar uma nova companhia aérea que perdura até hoje: a Brussels Airlines, hoje pertencente ao Grupo Lufthansa.

Após a queda da SABENA, o governo belga decidiu criar uma comissão para investigar os motivos que levaram à queda da companhia aérea. Entre várias conclusões extraídas, concluiu-se que uma das causas diretas da falência da companhia aérea foi o facto de a Swissair não ter cumprido as suas obrigações contratuais e não ter injetado os fundos necessários na SABENA. Isso porque, na época, a Swissair também estava tendo seus próprios problemas financeiros. A própria Swissair faliu em outubro de 2001 e foi liquidada em março de 2002. Em um acordo assinado em 17 de julho de 2001, o primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt se reuniu com o CEO da Swissair, Mario Corti, que concordou em injetar 258 milhões de euros na SABENA como resgate. Os políticos belgas também assumiram parte da culpa: Rik Daems, que na época era Ministro de Empresas e Capital Público,

A SABENA, foi uma das últimas companhias aéreas clássicas da Europa a ir à falência, revelando o quão frágil e competitivo era o sector dos transportes aéreos na altura, muito acentuado com os acontecimentos do 11 de Setembro.

O legado da SABENA ainda hoje pode ser visto em alguns museus espalhados pela Europa, por algumas aeronaves que ainda voam em diferentes operadoras e, indiretamente, pela atual Brussels Airlines, que absorveu vários ativos e funcionários da companhia aérea falida, que, no passado, foi um dos mais luxuosos da Europa.

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