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quinta-feira, 16 de novembro de 2023

AT-5 Brave Eagle vai substituir F-5E/F em Taiwan em 2024

 


A força aérea de Taiwan deve, até o fim do ano, substituir sua frota de jatos F-5E/F Tiger II ainda em uso tanto para missões operacionais quanto para formação de novos pilotos. O substituto será o AIDC AT-5 Brave Eagle, aeronave desenvolvida localmente que voou pela primeira vez em junho de 2020 e já está pronta para o serviço ativo.

Não será uma substituição em si, e sim uma reformulação do componente “low” da força aérea de Taiwan. Hoje, os cerca de 24 F-5E/F Tiger II ainda em uso são usados para que os pilotos inicialmente formados nos 34 monomotores à hélice T-34 Mentor e posteriormente treinados nas missões de caça nos 40 jatos AIDC AT-3 Tzu Chung ganhem experiência antes de seguirem para as unidades “high” equipadas com os 50 Mirage 2000-5, 130 F-16/B/V e cem F-CK-1C, estes últimos de produção local. Com a introdução dos AT-5, este será o único degrau entre os T-34 e os esquadrões de primeira linha.

AIDC AT-5 Brave Eagle

Diferentemente dos F-5E/F, o AT-5 foi desenvolvido como um lead-in fighter trainer (LIFT), ainda que com características notáveis. Com 14,5 metros de comprimento e 9,2 de envergadura, tem peso máximo de decolagem de 7,5 toneladas e leva dois motores norte-americanos Honeywell/ITEC F124-200TW, suficientes para levá-lo a voar a até 1.030 km/h, com alcance de traslado de até 1.350 km. Não há canhão interno instalado, mas há previsão para usos de mísseis ar-ar Sidewinder, além de bombas e foguetes. Há estudos para a adoção de um radar do tipo AESA, o que também deve significar a incorporação de mísseis além do alcance visual.

Caças F-5 não serão vendidos

A força aérea de Taiwan foi uma das maiores operadoras de caças F-5 no mundo, tendo recebido seus primeiros F-5A/B ainda em 1965, a fim de substituir os F-86 Sabre. Essa versão foi operada até 1996, tendo o fim da sua história também ligada a missões de treinamento avançado.

F-5F de Taiwan

O F-5E/F Tiger II, no entanto, foi quem fez a história no país insular, até hoje considerado pela China como uma província rebelde. Os primeiros 28 F-5E foram enviados para Taiwan em 1975, mas logo houve o início da produção local. Ao todo, foram 336 F-5E/F recebidos, o maior somatório no mundo. A China comunista se preocupava tanto com o F-5 que chegou a oferecer recompensa em ouro para os pilotos de Taiwan deserdarem e levarem modelos para o continente. Isso, de fato, ocorreu (veja mais abaixo).

Até o início dos anos 90, com a chegada dos primeiros F-CK-1, Mirage 2000 e F-16, esses caças foram a espinha dorsal da defesa aérea de Taiwan. O processo de desativação tem ocorrido ao longo dos últimos 30 anos, sobretudo após o país desistir de um programa de modernização. As células antigas têm tido como principais destinos se tornarem alvos falsos nas bases aéreas, para isso recebendo, inclusive, componentes para confundirem os sistemas de inteligência inimigos. Esse deve ser o destino dos últimos F-5.

Curiosamente, Taiwan deve ainda manter em serviço cinco RF-5E Tigergazer, versão de reconhecimento aéreo equipada com câmeras KA-95, KA-87D e RS-710E, esta última do espectro infravermelho. Os jatos vão voar até o recebimento dos novos drones MQ-9B e do sistema MS-110 para os caças F-16V.

F-5 capitalista deserdou para China comunista

Em 8 de agosto de 1981, um piloto de F-5 de Taiwan fugiu para viver na China comunista. Mas entre as motivações dele estava um fator bastante capitalista: Peter Z. Huang, já no posto de major, foi atraído pela recompensa em ouro para quem levasse um F-5 para a China continental.

O governo da China havia anunciado em 1978 que pagaria em ouro a recompensa para qualquer um que levasse um F-5E até lá. Um detalhe chama a atenção: os chineses prometeram pagar 2 milhões de dólares, mas o desertor recebeu “apenas” 370 mil, sem que se saiba publicamente o porquê. A prática de recompensar desertores também partia dos capitalistas. Em 1977, um piloto chinês voou para Taiwan com seus MiG-19, e por isso recebeu 250 mil dólares, também em ouro.

Caça F-5F exposto em Pequim Foto: China Military Review

Em 1981, o F-5 era o avião de caça mais avançado em uso em Taiwan, ainda que inferior a outros modelos utilizados pelos Estados Unidos e outras potências ocidentais, como os F-15 e os F-16. Porém, à época, a China também estava atrasada na tecnologia militar, e a obtenção da aeronave com tecnologia dos EUA ampliou os horizontes dos engenheiros chineses. Outro fator preocupava Pequim: os F-5E/F eram produzidos sob licença em Taiwan, com acesso ao conhecimento.

Por esse motivo, a deserção daquele dia 8 de agosto de 1981 foi comemorada pelos comunistas. O major Huang voou para o continente a bordo de um F-5F. Ele estava sozinho e, após uma decolagem para um voo rotineiro, cruzou o estreito de Taiwan a 400 pés de altura (cerca de 121 metros). O caça envolvido tinha a matrícula 5361, com número de série 77-0343, e hoje está exposto em Pequim.

Até hoje o F-5 tem importância operacional para Taiwan

Após abandonar Taiwan com seu F-5F, aos 29 anos, na vida comunista, Peter Z. Huang, além da recompensa, foi agraciado com medalhas e com um posto na força aérea do seu novo país. Em uma cerimônia transmita pela TV estatal, ele ressaltou o caráter político da deserção: “eu voltei para a minha terra natal”. Para os chineses, Taiwan não é um país, e sim uma província rebelde.

O sucesso foi tão grande que em 1983 um outro militar de Taiwan, Major Li Dawei, decidiu seguir os passos do seu ídolo, e desertou com um avião U-6A Beaver. Três anos depois, seria a vez do piloto Wang Xijue ir para a China com um Boeing 747. Já em 1989, um piloto tentou levar um F-5E, mas acabou ejetando em território chinês.


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