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sábado, 18 de novembro de 2023

CURTISS C-46 COMMANDO, ESSE DESCONHECIDO

Foto: historynet.com






Falar do desenvolvimento da aviação comercial brasileira sem mencionar o Curtiss C-46 seria omitir uma parte importante de sua história.

Ao lado do DC-3, o Curtiss teve papel de destaque de expansão da malha aérea no país e foram operados pelas principais companhias aéreas no pós-guerra., tendo chegado ao país adquiridos como sobras de guerra do Corpo Aéreo do Exército Americano  (AAF)— a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) só seria criada em 1947.

Gênese

Protótipo do Curtiss CW-20. Observe a deriva dupla (Foto: pinterest.com)

O projeto do Curtiss CW-20 surgiu de um empreendimento privado da empresa Curtiss-Wright em 1937 e objetivava concorrer diretamente com os Boeings 307 Stratoliner e o Douglas DC-4 (ambos quadrimotores) para o transporte de passageiros.

A ideia era oferecer uma aeronave para 25 a 35 passageiros em um novo padrão de conforto (ao empregar cabine pressurizada), usando um conceito de “dupla bolha” para a fuselagem  visando a distribuição de esforços para voos em grandes altitudes (e diferenças de altitude advindas da pressurização).

A escolha da empresa foi o emprego de dois. em de quatro  motores, de grande potência, visando a otimização estrutural da aeronave e menores custos de operação e manutenção.

Para tal, inicialmente foi escolhido o motor Wright R-2600 Twin Cyclone, de 18 cilindros, 42,6 L e gerando 1.700 hp e uma fuselagem convencional com leme de cauda dupla.

O primeiro voo do CW-20 se deu em 26 de março de 1940. Nos modelos subsequentes, no entanto, a dupla cauda foi abandonada em favor de um leme único e os motores Wright R-2600 cederam lugar para o robustíssimo Pratt & Whitney R-2800 de 18 cilindros e 45,8 L gerando 2.000 hp cada.

Apesar das expectativas em torno da aeronave, a Curtiss-Wright não encontrou aceitação para o seu CW-20. Por sua vez, o início da Segunda Guerra Mundial e a necessidade de aeronaves de transporte fez com que a AAF encomendasse um lote de CW-20, inicialmente batizados de C-55 e posteriormente, C-46, sua nomenclatura definitiva e como é conhecido até hoje.

Os primeiros Curtiss C-46 foram entregues de maneira maciça a partir da segunda metade do ano de 1943, após modificações impostas pelo exército e algumas barreiras burocráticas. Fora produzidas 3.181 unidades até 1945 quando o modelo foi descontinuado.

(Foto: nationalmuseum.af.mil)

Sua capacidade de carga aliada ao espaço interno, apto a transportar 55 soldados ou 33 leitos, permitiu sua imediata aceitação pelo exército, com pequenas modificações (adição de uma porta de carga dupla e piso reforçado) substituindo as companhias aéreas que não encomendaram uma unidade sequer da aeronave.

O Curtiss não teve muita participação no flanco europeu mas na Ásia, suas qualidades se tornaram patentes: suas dimensões e capacidades de carga aliada à capacidade de cruzar em grandes altitudes (necessárias para transpor a Cordilheira do Himalaia) fizeram do C-46 um transporte popular naquela região.

Entretanto, a aeronave tinha manutenção problemática, problemas hidráulicos, bloqueio por vapor (vapor lock) das linhas de combustível em grandes altitudes e, somado a eles, casos de explosões de aeronaves em voo acabaram com a reputação da aeronave.

A questão específica das explosões em voo, descobriu-se depois, era vazamentos de combustível dos tanques da aeronave que à menor faísca se inflamava e causava a explosão.

Tudo isso levou a aeronave a ficar conhecida como Plumb Nightmare e Flying Coffin (pesadelo de chumbo e esquife voador), não sendo muito apreciada em sua operação.

Seu desempenho operacional em condições monomotor (algo que não era tão incomum assim nos motores radiais) também era tido como insatisfatório e foi a causa de muitos acidentes.

Talvez, por conta disso, além de ter uma operação 50% mais cara que um C-47/DC-3, as sobras de guerra, vendidas a preços módicos depois da guerra, não tenham tido aceitação por parte das companhias aéreas americanas e, o Curtiss só encontrou espaço na América Latina, onde muitos foram operados no transporte de carga e em alguns locais, de passageiros, alguns deles operando até bem recentemente no Alasca.

O C-46 tinha velocidade máxime de 435 km/h. alcance de 5.069 m e teto máximo de 4.689 metros. Sua carga útil era de 6.800 kg e a razão máxima de subida, 1,180 pés por minuto.

No Brasil

A Varig foi uma grande operadora do C-46; repare que a roda a bequilha também é retrátil (Foto: varig-airlines.com)

Os primeiros Curtiss C-46 chegaram ao país em 1947, trazidos pelo empreendimento de Vinicius Valadares Vasconcellos, um empresário que se especializou em importação de aeronaves tidas como excedentes de guerra.

O primeiro operador, ainda em 1947 foi a TCA – Transporte de Carga Aérea S.A. seguida pela Companhia Itaú de Transporte Aéreos (ligada à Companhia de Cimentos Itaú). Posteriormente ambas empresas foram absorvidas por outras congêneres (a TCA pelo Lóide Aereo e a Itaú´, pela Transportes Aéreos Nacional Ltda) e suas frotas, incorporadas.

Mas foi nas cores do Lóide Aéreo, Paraense e da Varig que os Curtiss ficaram conhecidos. 

Configurados para até 46 passageiros, em fileiras de 3+2, os Curtiss voaram do final da década de 1940 até meados dos anos de 1960, em especial nos voos de carga. 

Para melhorar o desempenho em subidas (e por consequência, a segurança operacional) e mesmo em condição monomotor, alguns C-46 foram equipados com dois motores a reação adicionais nas asas: Duas Turbomeca Pallas de 72 kg cada e produzindo 350 lb de empuxo eram ligadas na decolagem como auxilio nesta fase de voo.

Curtiss com um par de Turbomeca Pallas sob as asas. Os “jatinhos” como eram chamados, eram acionados imediatamente antes da decolagem para melhorar o sofrível desempenho do Curtiss (Foto: minijets.org)

Posteriormente a Varig modificou algumas aeronaves com a L.B. Smith americana, com a substituição dos motores R-2800 originais por outros, de 2.400 hp, hélices tripás e novas naceles de motor, dando melhor desempenho ao avião.

Conhecido com Super 46-C, essas aeronaves voaram ainda um bom tempo, chegando à década de 1980 quando a Taba (Transportes Aéreos da Bacia Amazônica) ainda mantinha dois deles em voo.

O último Curtiss C-46 em voo no país foi o PT-LBP, originalmente pertencente ao importador Vinicius Valadares Vasconcellos. Entregue ainda em 1947 para a Força Aérea Brasileira (FAB) junto com outra aeronave do mesmo modelo, operou com o prefixo FAB 2058 até 1967 quando foi desativado e vendido.

Essa aeronave passou muitos anos encostada no aeroporto Santos Dumont até 1989 quando foi para o Pará, operando como Táxi Aéreo ate 1996, quando foi novamente encostada. Anos depois, o Musal (Museu Aeroespacial) trouxe novamente o avião (em voo!!!) para o Rio de Janeiro, onde pintada com as cores da FAB permanece em exposição estática no Campo dos Afonsos.

(Foto: brazilairforce.blogspot.com)

Além do FAB 2058, existe no país o PP-VCE, um Super 46C exposto em Bebedouro, SP no Museu de Armas Veículos e Máquinas Eduardo André Matarazzo e o esqueleto de uma aeronave encostado há mais de 30 anos no Aeroporto de Itacotiara, AM.

O Curtiss abandonado de Itacotiara (Foto: portalamazonia.com)

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